Filme do dia (80/2022) - "Belfast", de Kenneth Branagh, 2021 - Irlanda do Norte, 1969. Em meio ao conflito religioso entre protestantes e católicos, o menino Buddy (Jude Hill) e sua família vivem uma vida simples, apertada pelas dívidas, mas cercada de afeto. A violência decorrente do conflito, no entanto, poderá obrigá-los a tomar uma difícil decisão.
Baseado nas memórias pessoais do diretor Kenneth Branagh, o qual ainda assina o roteiro, o filme é um retrato do conturbado momento político-social-religioso da Irlanda do Norte no final dos anos 60. Com um evidente olhar saudosista e melancólico, a obra discorre sobre a experiência de viver uma infância onde afetos e medos andam lado a lado. Evidente que, por se tratar de reminiscências do diretor, a obra estaria imbuída de muita emoção, elevando o filme a uma profunda experiência sensorial para o espectador, certo? Errado! Não sei como Branagh conseguiu essa proeza, mas, ainda que o filme tenha como inspiração as lembranças do diretor, para mim a obra se mostrou completamente desprovida de alma. A sensação que eu tive é de que Branagh esteve tão focado na beleza pictórica da obra, num esteticismo exacerbado e vazio, que esqueceu de colocar suas verdadeiras emoções na narrativa. O filme "força" a sua beleza cênica tão intensamente que nem mesmo isso parece natural, mas somente uma falácia. São planos tão excessivamente construídos que perdem qualquer naturalidade. Realmente houve uma preocupação inegável com a fotografia, majoritariamente P&B, mas, tirando os plongées e contra-plongées, as câmeras sempre em movimento nas externas, os closes perscrutando os atores nas cenas internas, o uso de uma lente ligeiramente grande-angular que proporciona uma quase imperceptível distorção nas imagens, os posicionamentos de câmera inusuais e sofisticados, a grande profundidade de campo que permite que primeiro e último plano permaneçam em foco, etc, etc et al, não sobra quase nada. Para mim, os prêmios de Melhor Roteiro Original no Oscar (2022), Melhor Roteiro de Cinema no Globo de Ouro (2022) e Melhor Filme Britânico no BAFTA (2022) são completamente incompreensíveis. Além do esteticismo excessivo, que me incomodou demais, a edição de som também não me agradou, mesmo levando em conta a minha "surdez" para cinema. Tive a sensação de que todos os sons do filme foram produzidos em estúdio, pois percebi o "abafado" do entorno - e olha que para eu perceber esse tipo de coisa, isso deveria estar por demais óbvio! Para completar o desastre, o excesso de cenas aleatórias, por vezes em câmera lenta, sem grande razão de ser, acompanhadas de música (diversas vezes significando um saxofone cafona), quase reviraram meu estômago. Sim, eu assumo, eu não gostei de quase nada da obra e terminá-la foi um suplício. Para dizer que não gostei de nada, achei a sequência inicial do filme bem impactante e gostei bastante da ideia de fazer as cenas de filmes no cinema coloridas, em contraposição ao P&B da narrativa, dando a ideia da fascinação do protagonista - alter-ego do diretor - pelo cinema. Também curti o núcleo dos avós do menino, para mim, os personagens mais bem construídos e os únicos que vieram acompanhados de verdadeira emoção. A narrativa é linear, em um ritmo moderado, acelerando nas cenas de conflito. O elenco é formado por Jude Hill como o menino Buddy (nhé... já vi atores mirins bem melhores), Jamie Dornan como o pai (inexpressivo que só), Caitriona Balfe como a mãe (carrega nas costas o filme, graças sua ótima interpretação), Judi Dench como a avó (essa sim, irretocável... como sempre), Ciarán Hinds como avô (o melhor personagem da história e, sem dúvidas, o mais humano e emocionante) e Lewis McAskie como o irmão (superficial e dispensável). E pensar que eu lamentei não ter ido ver o filme no cinema... Sinceridade, o filme não me disse a que veio. Não gostei nem pela fotografia rebuscada e não recomendo.
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