Filme do dia (180/2021) - "Better Days", de Kwok Cheung Tsang, 2019 - China, 2011. - Chen Nian (Zhou Dongyu) é uma estudante do ensino médio em vias de prestar o concorrido vestibular chinês. Após o suicídio de uma colega que sofria bullying, as atenções se voltam para Chen, pois foi a única estudante que denunciou o bullying para os policiais que passaram a investigar o caso. Como nova vítima preferencial de abusos dos colegas, Chen busca a proteção de Xiao Bei (Jackson Yee), um pequeno delinquente das ruas da cidade.

Misturando os gêneros drama, romance e policial, o filme, desde o primeiro minuto, evidencia qual será seu tema principal - o bullying, um problema que assola, em maior ou menor grau, todos os ambientes escolares mundo afora. Com um didatismo um pouco irritante e levando o tema às últimas consequências, a obra acompanha o cotidiano tenso da estudante Chen, que, não bastasse a tensão causada pela proximidade das provas de vestibular, ainda precisa se preocupar com sua segurança no caminho da escola para casa. O filme tem, como pontos positivos, a boa construção da tensão vivida por Chen, a forma como se dá o desenvolvimento da relação entre a estudante e seu protetor, a inegável química entre os personagens Chen e Xiao e a delicadeza como são colocadas as fragilidades da menina e do jovem. A questão da empatia - ou falta dela - permeia toda a narrativa, bem como a dificuldade dos adultos - sejam eles pais, professores ou policiais - de entenderem e adentrarem ao confuso universo adolescente. A relação de Chen e Xiao é tratada com extrema delicadeza e rapidamente o espectador se afeiçoa aos personagens. Mas a obra também traz alguns problemas: o bullying retratado torna-se cada vez mais intenso e exagerado, algo que sai um pouco fora do normal, mas que talvez se justifique pela intenção da história em tocar o espectador. Para mim, o maior senão do filme é a forma maniqueísta como os personagens são retratados, principalmente os "vilões", que não têm qualquer espessura, qualquer complexidade: eles são maus e ponto. A narrativa é circular (espere os créditos para ver o final) e o ritmo é marcado. A atmosfera é um tanto claustrofóbica, mas a relação entre a estudante e seu protetor ajuda a dar um "respiro" na história. O filme traz uma fotografia bonita, com cores saturadas e contrastadas. Boa parte da força do filme está na interpretação do casal central - tanto Zhou Dongyu quanto Jackson Yee estão muito bem em seus personagens, que se mostram mais complexos que seus opositores. A temática do bullying é recorrente no cinema, legando desde filmes de terror como "Carrie, a Estranha" (1976) ou "Deixa Ela Entrar" (2008), como obras adolescentes como "Meninas Malvadas" (2004), mas são poucos os filmes que tratam o assunto de forma séria - nesse sentido, eu destacaria os ótimos "Ferrugem" (2018) e, ainda mais, "Depois de Lúcia" (2012). Eu gostei do filme e fiquei bastante envolvida com ele. A obra está concorrendo a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2021.
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