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  • hikafigueiredo

"Betty - Uma Mulher sem Passado", de Claude Chabrol, 1992.

Filme do dia (39/2021) - "Betty - Uma Mulher sem Passado", de Claude Chabrol, 1992. - Betty (Marie Trintignant) é uma mulher de 28 anos, alcóolatra e sem perspectivas que é acolhida por Laure (Stéphane Audran), uma desconhecida que, por piedade, resolve ajudá-la. Enquanto é cuidada por Laure, Betty começa a contar sobre seu conturbado passado.





*Suspiro*. Existem filmes que são bastante complicados de discorrer sobre, às vezes por sua complexidade, às vezes pelo tipo de relação que o espectador desenvolve com a obra. Eu diria que este é um filme que se encaixa na segunda alternativa. Minha experiência com a obra foi a seguinte: a narrativa foi se desenvolvendo e eu fui formando, interiormente, uma imagem da protagonista. Eu comecei a interpretá-la como uma mulher destruída, sem chão, que acabara de sofrer um duro golpe. A empatia estava presente e eu via a personagem com um olhar piedoso. Com um pouco mais de história, essa imagem interior se modificou e passei a ver a personagem como uma auto-sabotadora, alguém que tinha condutas que se voltavam contra ela própria - a empatia se manteve firme e forte, assim como a comiseração. Até que, bem próximo do desfecho, ocorre um evento que me tomou como um "plot twist", muito embora eu tenha imaginado esse evento segundos antes dele acontecer. Subitamente, toda a imagem que eu tinha da personagem esfacelou-se como papel molhado e eu a vi na sua essência. Com o filme findo, consegui, finalmente, entender a personagem como uma criatura aproveitadora, manipuladora, traiçoeira e egoísta. Mas, acima de tudo, Betty é amoral. Nada do que ela faz repercute em sua consciência, inexistem parâmetros morais para a personagem. E o filme é isso - uma grande e paulatina construção de personagem que vai se formando diante dos olhos do espectador. É evidente que isso faz com que a obra seja interessantíssima, quase genial. Ainda que exista uma linha condutora principal em tempo cronológico, a narrativa é constantemente interrompida por lembranças da protagonista, memórias estas que afloram sem seguir grande lógica e que podem, inclusive, se repetir. Essa montagem me pareceu, em alguns momentos, um pouco aleatória, mas não foi suficiente para que eu me perdesse na linha do tempo. O ritmo é moderado e constante. Por sua própria característica - ser um filme de construção de personagem - as interpretações tornam-se o elemento mais importante da obra. O filme É Marie Trintignant, ela é a alma da obra e nos conduz como a um cachorrinho para onde ela bem entende. E não pense que Stéphane Audran fica atrás - sua interpretação também é ótima, ainda que sua personagem seja infinitamente menos complexa que a de Trintignant. Eu gostei demais do filme, principalmente porque ele conseguiu me enganar por muito tempo rs! Filmaço! Recomendo.

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