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“Between the Temples”, de Nathan Silver, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (123/2024) – “Between the Temples”, de Nathan Silver, 2024 – Ben Gottlieb (Jason Schwartzman) é um cantor de sinagoga em depressão desde a morte prematura da esposa, motivo pelo qual não consegue mais cantar nos rituais religiosos. Certo dia, ele reencontra Carla Kessler (Carol Kane) que fora sua professora de música na infância, a qual revela que sempre quis fazer seu bat mitzvah, o que lhe fora negado no início da adolescência. Ela acaba convencendo Ben a lhe dar aulas e, aos poucos, eles começam a descobrir diversas coisas em comum.





Gente... que filme gostoso! Tudo bem, ele é quase uma releitura de “Ensina-me a Viver” (1971), pois retoma a ideia de romance entre um homem mais jovem e uma mulher mais velha, mas a condução da narrativa é tão suave e envolvente que é impossível ficar impassível. Na história o cantor religioso Ben encontra-se em depressão pela morte de sua esposa. Ele reencontra Carla, sua antiga professora de música, e passa a dar aulas de Torá para ela realizar um bat mitzvá tardio. Carla, apesar de muito mais velha que Ben, é uma mulher cheia de energia, bem-humorada e com curiosidade pelas coisas e pela vida. A relação entre ambos é construída vagarosamente, mas com muita solidez. O filme é corajoso por enfrentar um dos preconceitos mais profundos que existe: o etarismo, a ideia arraigada no inconsciente coletivo de que as pessoas, depois de uma certa idade, não contam mais, não podem ter sonhos, nem se lançar a novidades. O etarismo contra as mulheres, ainda mais forte, define que mulheres de idade avançada não podem se relacionar amorosamente com ninguém, quiçá com homens bem mais jovens. E o filme enfrenta essas ideias através de uma história muito gostosa e bonita. A narrativa é linear, em ritmo bastante intenso, e traz uma comicidade ligeiramente ácida, e até mesmo debochada. O filme não traz apenas uma temática arrojada, ele também aposta em um formato híbrido, pois, em muitas passagens, ganha um formato de documentário, diferente do restante da obra. Nessas passagens, a câmera, na mão, é movimentada, quase esquizofrênica, e participa ativamente da história. A música privilegia cânticos judaicos, abrindo algumas exceções. O elenco traz o ótimo Jason Schwartzman como Ben – o protagonista, no início do filme, é a imagem da depressão, ele simplesmente não tem cor ou brilho; a atriz Carol Kane, por sua vez, interpreta Carla e empresta alegria e vibração raras à personagem. Incrível como a dupla de intérpretes conseguiu desenvolver uma química imbatível entre os personagens – Ben e Carla fazem um casal adorável! Senti falta de algo mais físico entre os personagens, mas desconfio que foi proposital, que foi para indicar o quão mais profunda era a relação deles, algo como um encontro de almas. No elenco, ainda, Dolly de Leon como Judith, Caroline Aaron como a ídiche mama Meira, Robert Smigel como rabino Bruce, Madeline Weinstein como Gabby/Ruth e Matthew Shear como Nat. Destaque para a cena do chá, hilária, e para a cena do jantar, só maravilhosa. Eu confesso que amei o filme, e, como mulher mais velha, super me identifiquei com o tema. Poderia ser um ótimo “filme de conforto”. Recomendo. Visto na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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