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hikafigueiredo

"Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", de Arthur Penn, 1967

Filme do dia (143/2022) - "Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", de Arthur Penn, 1967 - EUA, 1931. A jovem Bonnie (Faye Dunaway) envolve-se com o criminoso Clyde Barrow (Warren Beatty) e passa a acompanhá-lo em sua vida de crimes. Juntos, eles roubarão carros e bancos, passando a ser procurados por todo o país.





Após seu período áureo, Hollywood passou por um (curto) período de estagnação, onde a criatividade parecia em baixa e o cinema norte-americano dava sinais de esgotamento. Nesse contexto, alguns jovens cineastas estadunidenses surgiram com novas e arrojadas propostas, ousando em filmes que, em anos anteriores, jamais passariam pelo crivo dos produtores de Hollywood. E assim nasceu a chamada "Nova Hollywood", trazendo diretores como John Cassavetes, Peter Bogdanovich, Francis Ford Copolla e Robert Altman, em produções independentes, isso é, fora do controle absoluto dos grandes estúdios. "Bonnie e Clyde" é, para muitos, o marco inicial desse movimento cinematográfico e trouxe , consigo, uma nova proposta de cinema. O filme inovou em várias frentes, começando por retratar uma juventude entediada e rebelde, disposta a correr qualquer risco para fugir da mesmice. Os personagens Bonnie e Clyde são ambíguos, pois, ao mesmo tempo em que são criminosos violentos, trazem certo ideal de justiça social (quando, por exemplo, assaltam um banco mas não levam o dinheiro do cliente, um pobre trabalhador com suas economias), além de se mostrarem ligados à família, fiéis aos amigos, apaixonados um pelo outro e, muitas vezes, absolutamente ingênuos - essa complexidade dos protagonistas jamais teria vez na Hollywood clássica, que engessava os personagens em estereótipos de "mocinhos e vilões". O filme também inovou ao retratar e, de certa forma, glamourizar, a violência e a liberdade a qualquer preço, inclusive através da violência gráfica, uma ousadia estética impensável até então. Assim, a obra é, definitivamente, um importante marco na história do cinema, motivo pelo qual merece ser comemorada. Por outro lado, para o público que não se liga muito nos contextos das obras e em seus significados dentro da arte cinematográfica, talvez o filme não pareça assim tão imponente. Eu tive a sensação de que a obra envelheceu não tão bem e, em alguns momentos, até a achei um pouco "arrastada", como se tivesse sido "esticada" desnecessariamente (o que, para mim, não maculou em nada o filme, que fique claro). A narrativa é muito bem engendrada, em um ritmo bastante irregular, com momentos mais ágeis e outros mais serenos. A atmosfera da obra é estranhamente glamourosa, a fuga constante do casal central traz um ar de aventura, uma ousadia difícil de explicar. Tecnicamente, o filme ficou marcado pela fotografia mais seca e bastante dinâmica, nada que lembrasse a fotografia trabalhada e pouco "real" da época de ouro de Hollywood. A direção de arte de época é impecável, com destaque para o "desfile" de carros antigos. No elenco, Faye Dunaway destaca-se como Bonnie - a personagem mostra-se por vezes inocente, outras sedutoras, mas sempre com muita personalidade, e é essa complexidade de Bonnie que a torna tão interessante; Warren Beatty, ainda que muito bem como Clyde, não consegue impor as mesmas nuances ao personagem - não que ele seja estanque, mas ele perde em complexidade e charme para Bonnie. O elenco traz, ainda, Gene Hackman como Buck - ótimo, claro, senão não seria Gene Hackman; Estelle Parsons como Blanche - a atriz está incrível como a histérica e manhosa cunhada de Clyde; Michael J. Pollard como C. W. Moss; e Gene Wilder numa ponta como Eugene. O filme foi agraciado com os Oscars (1968) de Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (para Estelle Parsons) e com o BAFTA (1968) de atriz mais promissora (para Faye Dunaway) e ator mais promissor (Michael J. Pollard), além de inúmeras indicações ao Globo de Ouro daquele mesmo ano (1968). Ainda que eu ache a obra um pouco datada, ela é bem interessante e vale vê-la, no mínimo, por seu significado histórico. Eu recomendo.

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