top of page

“Cabelo, Papel, Água”, de Nicolas Graux e Truong Minh Quy, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

Filme do dia (109/2025) – “Cabelo, Papel, Água”, de Nicolas Graux e Truong Minh Quy, 2025 – Uma senhora vietnamita de muitos anos nasceu e viveu grande parte da sua vida em uma caverna. Agora, em Saigon, ela cuida de seus netos e bisnetos e ensina sua língua materna, quase extinta, o Ruc, para as novas gerações.


ree

 

Ai ai... Eu já não sou muito fã de documentário, mas, de tempos em tempos, eu arrisco um ou outro mais aclamado. A bola da vez foi essa obra, que recebeu uma premiação qualquer no Festival de Locarno. Pois bem. A crítica especializada aclama o filme com uma infinidade de (bons) adjetivos, destacando o fato da obra se estruturar em torno dessa língua quase extinta e retratar aquela existência tão particular da protagonista. Extremo romantismo. Que me perdoem os críticos de cinema empolados em sua erudição olímpica, mas o filme é quase insuportável. Em primeiro lugar, existe uma distância bem grande entre escolha estética e técnica mambembe – e aqui eu acredito estarmos diante do segundo caso. O cinema marginal brasileiro deixava, propositalmente, frames queimados, planos errados, uma estética “suja” como forma de protesto e uma transgressão à norma vigente, fazia todo o sentido.  Aqui a câmera tremida, o plano congelado, a “sujeira” da cena não têm motivo de ser senão desleixo no fazer mesmo. Mas isso é o de menos. Eu, particularmente, me incomodo muito com um certo tipo de documentário que retrata a miséria de “povos exóticos”. Sempre tenho a impressão de que estão expondo pessoas em seu cotidiano difícil, por vezes miserável, como em um zoológico humano, para “deleite” do público europeu e/ou “culturalmente superior” (como os críticos de cinema em geral). E para mim é esse o caso aqui. Há toda uma romantização da crítica em torno do filme que para mim é desrespeitosa quanto à protagonista e àquele povo – “Ah, olha que linda e poética a vida sofrida dessa pessoa e dessa população!”. É como fazer turismo na favela, sabe? Quanto maior o sofrimento e a pobreza do “personagem”, mais aclamada a obra é. “Ah, mas documentário tem que fazer isso mesmo, documentar!” – eu não sei muito como explicar, mas não é todo documentário que emana essa arrogância que eu estou me referindo e que aqui me atingiu em cheio, como uma granada. Eu fui ler algumas críticas para tentar entender a tal aclamação do filme e eu só vi isso: arrogância. Sinceramente, fiquei super incomodada com esse filme e só consigo achar que falta muita sensibilidade e empatia à elite intelectual do planeta. Quem quiser assistir, divirta-se. Vigésimo quarto filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

Comentários


bottom of page