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hikafigueiredo

"Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, 1964/1984

Filme do dia (297/2020) - "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, 1964/1984 - Em 1964, Eduardo Coutinho iniciou as filmagens de uma obra de ficção sobre João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962. Poucos meses depois, as filmagens foram interrompidas pelo golpe militar. Dezessete anos depois, em 1981, o diretor retoma as filmagens, agora um documentário, retratando o destino que tiveram Elizabeth Teixeira, a viúva de João Pedro, seus filhos e demais intérpretes do filme iniciado em 1964.





Emocionante. Esta é a primeira palavra que me vem à mente ao pensar no filme. Impossível não se consternar com a trajetória dessa fortaleza que é Elizabeth Teixeira, que precisou se afastar dos filhos e dos pais, escondida por dezessete anos sob identidade falsa para não morrer nos porões da ditadura. Através de seus depoimentos e dos demais membros do elenco do filme de 1964 estabelecemos contato com os fatos ocorridos antes e depois do golpe de estado, como a perseguição aos líderes camponeses, a tortura daqueles que foram detidos e as emboscadas visando eliminar as pessoas indesejadas pelos poderosos. Algumas observações: não é de agora que existem as fatídicas "fake news". Sempre foi expediente dos poderosos plantar notícias absolutamente falsas no intuito de manipular a opinião da população. Acompanhando as notícias dos jornais de 1964, podemos observar, no filme, os verdadeiros absurdos que foram ditos acerca das filmagens da obra original. A equipe de Eduardo Coutinho, magicamente, se tornou cubana e o filme sobre o líder camponês se transformou em um guia sanguinário onde se ensinariam técnicas de execução para serem aplicadas por revolucionários contra os latifundiários (antes fosse mesmo... rsrsrsrs) - em outras palavras, o filme que estava sendo rodado foi o "kit gay" da época - e, como ocorre hoje, é incrível que tenha existido trouxa que acreditou nesse nível de baboseira. Segundo, desde sempre a população humilde - em especial, a população do campo - foi explorada até seu limite pela elite. Observar a miséria em que viviam aquelas pessoas - e que vivem, muitas vezes, até hoje - chega a ser revoltante e quem não fica indignado com essa situação de pobreza deixou de ser gente para se tornar coisa há muito tempo. Serve de exemplo do absurdo que ocorre nos grotões do país, a emboscada sofrida por um dos filhos de Elizabeth, o qual foi baleado NO ROSTO quando tinha menos de doze anos de idade - uma criança!!! Quer coisa mais selvagem que isso???? Terceira observação: a religião, principalmente as correntes evangélicas, sempre esteve a serviço da elite como meio de "domar" o povo, mantendo-o, resignado, como gado no matadouro. Muitas foram as intervenções das igrejas evangélicas contra os movimentos sociais no campo e foi triste perceber que muitos líderes foram cooptados por estas infames igrejas. Última observação: a língua portuguesa, no Brasil, é tudo, menos una. Perdi as contas das falas que me escaparam porque não consegui entender o que foi falado pelo emissor. Gente, aquele pessoal dos fundões do Nordeste fala um dialeto, é impossível, por vezes, compreender o que foi dito por eles. A obra é maravilhosa, um documentário riquíssimo que nos deixa com aquele gosto de "quero mais" - o espectador quer saber o que aconteceu com aquelas pessoas depois de terminadas as filmagens!!! A obra é completamente OBRIGATÓRIA para quem se interessa por cinema brasileiro e para quem quer saber um pouco mais sobre a nossa história. Deveria ser obrigatória para quem acredita em "fake news" também... Recomendo muitíssimo!!!!

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