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  • hikafigueiredo

"Camille Claudel", de Bruno Nuytten, 1988

Filme do dia (443/2020) - "Camille Claudel", de Bruno Nuytten, 1988 - França, 1885. A jovem Camille Claudel (Isabelle Adjani), incentivada pelo pai, demonstra raro talento para a escultura, sendo escolhida por Auguste Rodin (Gerard Depardieu), já um renomado escultor, para ser sua aprendiz. Com o tempo, Camille envolve-se amorosamente com seu mestre, o que, futuramente, representará sua ruína.





Hoje vou começar com um "mea culpa". Confesso que fui completamente traída pela minha memória desta obra e, em outras postagens, cometi o erro de confiar nas minhas lembranças, que se mostraram quase completamente equivocadas. Na minha memória, Rodin, nesse filme, era retratado como um sujeito abusivo e arrogante, que teria sido o principal responsável pela derrocada de Camille. Pois, na revisita, descobri que minha memória me enganou. Não que não existam cenas em que Rodin aparece como um indivíduo, no mínimo, arrogante e aproveitador, mas isso ocorre de uma maneira infinitamente mais sutil do que eu me recordava. Há, especificamente, uma cena em que o artista visita o ateliê de Camille e mostra-se um tanto quanto canalha, mas, no restante da obra, ele surge como um camarada que tentou ajudar a antiga aluna e amante - portanto, muito menos sacana do que eu me lembrava. Feita a "mea culpa", vamos ao filme. A obra é uma cinebiografia de uma das mais importantes artistas plásticas da história da arte. O filme tem o mérito de não pintar Camille como uma pobre vítima ou, ao contrário, como uma vilã. A artista é retratada como uma jovem talentosa, intensa, por vezes voluntariosa, e apaixonada por seu ofício. Em contrapartida - e muito em decorrência à sua própria personalidade forte e orgulhosa - Camille também é mostrada como uma mulher instável e que, com o tempo, desenvolveu uma condição psicológica frágil, com mania de perseguição e paranoia. Ainda que Rodin tenha evidente participação na situação que levou Camille a desenvolver tal condição, pelo filme não podemos afirmar que tenha feito isso intencionalmente ou, mesmo, conscientemente. De qualquer forma, é impossível dissociar a escultora do artista, posto terem trabalhado juntos por muitos anos, em uma fase especialmente produtiva de Rodin (já li, por aí, que Rodin aproveitou-se muito do talento de Camille nessa fase, mas, não posso dizer que isso aparece manifestamente no filme). A narrativa é linear e traz um clima inicialmente positivo, tornando-se, paulatinamente, sombrio e depressivo à medida em que nos aproximamos do tristíssimo fim da artista. Visualmente é uma obra impactante, com uma fotografia muito bonita - luminosa no início, pesada ao final. A direção de arte de época é, da mesma forma, deslumbrante. Quanto às interpretações, Isabelle Adjani está fabulosa como Camille Claudel - ela traz nuances à personagem, delicada em alguns momentos, furiosa e intensa em outros e, por vezes, completamente perturbada e instável. Perto do furacão de Camille, o Rodin interpretado pelo excepcional Gerard Depardieu parece até apagado - mas não por conta da atuação do ator, sempre perfeito, mas por ser realmente uma figura mais discreta. O filme é muito interessante, mas saber o que aconteceu com Camille me deixa muito angustiada. Gosto da obra e acho que vale a visita.

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