Filme do dia (86/2024) – “Carruagens de Fogo”, de Hugh Hudson, 1981 – Reino Unido, 1919 a 1924. Às vésperas dos Jogos Olímpicos em Paris, em 1924, diversos atletas preparam-se para disputar as vagas existentes para a competição. Dentre estes, Harold Abrahams (Ben Cross), de origem judaica, e Eric Liddell (Ian Charleson), um devotado cristão, os quais disputam a vaga para a corrida dos 100 metros.
O filme, badaladíssimo à época do seu lançamento e contemplado com diversos prêmios, narra a história real da preparação da equipe de atletismo britânica para os Jogos Olímpicos de 1924, com foco especial em dois atletas – Harold Abrahams e Eric Liddell -, os quais não poderiam ser mais opostos, disputando a mesma vaga. Enquanto Liddell corria por devoção às suas crenças religiosas cristãs, Abrahams via na disputa uma forma alcançar prestígio dentro da aclamada Universidade de Cambridge, uma vez que sua origem judaica era um sutil entrave para suas aspirações dentro do ambiente acadêmico. Liddell e seu talento natural para o esporte eram um evidente obstáculo para Abrahams, o qual tinha, no seu esforço pessoal e treino obsessivo, seu maior diferencial. O filme discorre sobre convicções, sonhos, religiosidade, preconceito e superação e se constrói sobre um paralelismo entre os dois personagens centrais, os quais não interagem, exceto por uma única disputa em que ambos estão presentes. A narrativa é não linear, alcançando diferentes tempos cronológicos, num ritmo pausado e constante. Formalmente, é um filme todo certinho, bem construído, com uma belíssima fotografia colorida, em tons quentes, com o uso de muitos planos abertos e médios e recorrência em câmeras lentas, principalmente nas cenas de corrida. O desenho de produção de época é irretocável, reproduzindo, principalmente, a alta sociedade da Universidade de Cambridge, com todas as suas formalidades e clara arrogância. A trilha musical, assinada por Vangelis, marcou a obra, sendo reconhecida até hoje. As interpretações dos atores que fazem os protagonistas – Ben Cross como Harold Abrahams e Ian Charleson como Eric Liddell – são corretas e alcançam seu objetivo, embora não as ache muito extraordinárias. Melhor o trabalho de Ian Holm como Sam Mussabini, o treinador do personagem Abrahams, o qual lhe valeu inúmeras indicações para Melhor Ator Coadjuvante em diversos Festivais e competições. O filme foi agraciado com o Oscar (1982) nas categorias Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora; o BAFTA (1982) de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Ian Holm) e Melhor Figurino; o Globo de Ouro (1982) de Melhor Filme Estrangeiro; além do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante (Ian Holm) no Festival de Cannes (1981). Apesar de todos os prêmios, para mim, o filme é profundamente superestimado. A obra, na minha humilde opinião, é atmosfericamente amorfa. Explico: ela não me desperta qualquer tipo de emoção. Nenhuma, nada! Ela carece do melodrama hollywoodiano, mas, tampouco, possui a profundidade e introspecção habitual do cinema europeu. Minha impressão é que ela se estabeleceu num limbo entre os dois extremos e, talvez por isso mesmo, mostra-se esvaziada de emoções. Essa foi minha opinião quando assisti ao filme, muito jovem, nos anos 1980, e, por incrível que pareça, continua sendo a mesma impressão nos dias de hoje, na revisita. Talvez eu seja uma exceção, talvez eu tenha má vontade para com o filme, mas certo é que eu o acho completamente insosso. É ruim? Não, mas falta aquele “it”, aquele elemento diferenciador, especial, aquele molho, entendem? Enfim, tem milhares de obras que eu recomendaria antes de recomendar essa. Para quem quiser conferir, atualmente está na grade do Disney+.
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