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“Casa de Areia”, de Andrucha Waddington, 2005

  • hikafigueiredo
  • 9 de abr.
  • 2 min de leitura

Filme do dia (23/2025) – “Casa de Areia”, de Andrucha Waddington, 2005 – Maranhão, 1910. Vasco de Sá (Ruy Guerra) adquire terras numa região quase desértica. Carrega, a tiracolo, a esposa grávida Áurea (Fernanda Torres) e a sogra idosa, D. Maria (Fernanda Montenegro). Áurea e D. Maria logo arrependem-se da ida para aquela localidade e planejam retornar para a civilização, mas talvez seja tarde demais para elas.




 

Apoiado na beleza cênica espetacular dos Lençóis Maranhenses, o filme discorre, primordialmente, sobre a inexorabilidade do tempo, sobre as escolhas de uma vida, sobre o ritmo da natureza, sobre criar raízes (ou não), sobre laços de amor/afeto e sobre a dicotomia inércia-ação. As personagens D. Maria e Áurea são levadas para aquele local isolado, onde Vasco de Sá pretende fixar-se. Logo se veem sozinhas ali, presas no mar de areia, sem ter como sair ou fugir. Dias passam. Semanas. Meses. Anos. Eventuais tentativas de sair daquele lugar fracassam – e o tempo, implacável, continua a passar. Coragem, decisão e certeza vão cedendo lugar ao hábito e à resignação. Vagarosamente, raízes vão se fixando no terreno arenoso e inóspito. E o tempo continua sua marcha incansável, ignorando a existência das personagens e de seus sonhos. Esta é uma obra na qual precisamos imergir para compreendê-la na sua totalidade. Não me lembro de qualquer outro filme que tenha representado tão bem a vagarosa e contínua passagem do tempo quando estamos afastados do burburinho e sob o ritmo da natureza. Muito sensorial, eu me conectei à obra através de sensações que eu nem sabia que poderiam existir. Na história, a areia vai, paulatinamente, engolindo a casa de Áurea - mas não apenas a casa... A areia engole toda a vida da protagonista, enterrando-a naquele lugar. A narrativa é linear, com grandes elipses de tempo, num ritmo beeeeem vagaroso e constante, o que desperta sensações que vão da angústia ao desalento. Não é um filme fácil, nem uma obra para todos os públicos. Há, nele, um silêncio opressor, assim como é opressora a imensidão daquele céu e daquelas dunas de areia. É um filme muito claro, que aposta nas variações de um mesmo tom – tudo no filme é branco ou creme, jamais desafiados por outras cores. Sinceramente, tenho dificuldade de expressar o que senti vendo esse filme, mas digo que foi uma experiência cinematográfica incrível e muito diferente. Somadas a esse mar de sensações e impressões, as interpretações sempre espetaculares de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres – nunca erraram, não é mesmo? Adianto que elas se alternam nos papeis de mães e filhas, ao longo de um intervalo de 60 anos e três diferentes gerações – e fazem isso de uma maneira fascinante. No elenco, ainda, Seu Jorge, Enrique Diaz, Luiz Melodia, Stenio Garcia, João Acaiabe, Jorge Mautner e Camilla Facundes. Então... eu afirmo que estou apaixonada por esta obra, acredito que seja o filme nacional mais sensorial que eu já vi, maaaaaaas, há que se abrir para essa experiência. Amei e recomendo para quem gosta de obras subjetivas. Disponível no Youtube e em mídia física.  

 
 
 

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