Filme do dia (134/2023) – “Casa Gucci”, de Ridley Scott, 2021 – Patrizia Reggiani (Lady Gaga) é uma alpinista social que conhece o apagado herdeiro da Casa Gucci, Maurizio (Adam Driver), usando de todas as suas armas para conquistá-lo. O pai de Maurizio, Rodolfo (Jeremy Irons), percebe as intenções de Patrizia e tenta alertá-lo, sem sucesso, pois o rapaz casa-se com ela e logo passa a ser manipulado pela esposa.

Baseado na história real da família Gucci, o filme narra os inúmeros jogos de interesse, conchavos e traições envolvendo Patrizia e Maurizio e que levaram a uma verdadeira derrocada da família entre os anos 80 e 90, culminando com o assassinato de Maurizio (não é spoiler, é um fato histórico!). A história em si é bem interessante, principalmente por evidenciar o quanto o poder e o dinheiro corrompem o ser humano, levando-o a cometer as maiores atrocidades, mesmo contra “os seus”. Mas, o filme, para mim, deixou a desejar. O primeiro motivo é o mesmo que me incomodou em “O Caçador de Pipas” (2007) – tratando-se de uma história envolvendo uma notória família italiana, faltou a Ridley Scott uma maior sensibilidade para retratar aquele povo e seus costumes. Falta a essência da Itália no filme e sobra a Itália vista por olhos estrangeiros (aqui esta visão americanizada não é tão evidente porque se trata de um país ocidental, então a distância entre o objeto e sua representação não chega a ser gritante como no outro filme mencionado, mas, ainda assim, falta muito molho à obra). O segundo motivo é que achei o filme muito protocolar, muito hollywoodiano. Ridley Scott tem qualidade de direção para fazer filmes muito autorais, mas, por qualquer motivo, optou por fazer uma obra absolutamente convencional. Não que o filme seja exatamente ruim, mas também não posso dizer que ele é bom e que vai ficar na memória – provavelmente vou esquecê-lo em poucos dias. Por fim, a história retrata pessoas tão arrogantes e deslumbradas que eu não consegui me sentir conectada a absolutamente nenhum personagem! Até Maurizio, que no início do filme desperta certa simpatia, revela-se uma pessoa desprezível e não por poucos motivos. O resultado é que senti um grande distanciamento de tudo aquilo que acontecia na história. A narrativa é majoritariamente linear, em ritmo moderado e constante, praticamente sem clímax e um tanto errática. A atmosfera é meio insossa e não me despertou grandes emoções. O desenho de produção é bem bacana e conseguiu retratar aquele mundo de riqueza e glamour com perfeição. A trilha sonora do filme sofre de esquizofrenia musical – a cada cinco minutos toca uma música diferente que vai de Mozart a Donna Summer, de David Bowie a Madame Butterfly, achei completamente aleatório. As interpretações, por sua vez, trazem extremos – de um lado, uma boa Lady Gaga, que claramente se preparou para a personagem; Jeremy Irons, um senhor ator, está bastante bem no papel; e Al Pacino, se não brilha, não faz feio (até porque é o Al Pacino, né... ele NUNCA faz feio!) No outro extremo, temos Adam Driver que está longe de fazer um bom trabalho – nem parecia o mesmo ator de “Paterson” (2016), “Infiltrado na Khan” (2018) e “História de um Casamento” (2019), pois está completamente apagado; mas o fim da ladeira mesmo fica por conta de Jared Leto como Paolo – aparentemente o ator esqueceu como se interpreta depois de ganhar o Oscar em “Clube de Compras Dallas” (2013), porque, misericórdia, nunca mais fez nada que prestasse! Lady Gaga foi indicada para Melhor Atriz em inúmeros festivas e premiações – Bafta (2022), Globo de Ouro (2022), Critics’ Choice Awards (2022), Sindicato dos Atores (2022), mas curiosamente ficou de fora do Oscar (2022)... De qualquer forma, não recebeu qualquer destes prêmios... A boa história real foi, a meu ver, mal aproveitada e resultou num filme sem alma e sem graça – e que ainda tem quase três horas de duração, um tour de force para assisti-lo... Não me animo a recomendar não.
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