Filme do dia (11/2021) - "Certo Agora, Errado Antes", de Hong Sang-soo, 2015 - Um famoso cineasta (Jung Jae-young) está de passagem por uma pequena cidade para um evento. No dia livre que ele tem antes de sua apresentação, o cineasta vai visitar pontos turísticos da cidade e acaba conhecendo uma jovem pintora (Kim Min-hee).
Neste curioso filme, dividido em duas partes, temos uma clara demonstração de como a mesma situação pode ter resultados completamente diferentes, dependendo da maneira como é conduzida e de como são expostos os sentimentos e intenções dos envolvidos. Na primeira parte, os personagens vagam pela cidade e o cineasta flerta abertamente com a pintora, sem deixar claro, no entanto, os sentimentos e intenções que regem sua conduta; no segundo segmento, os mesmos personagens dirigem-se aos mesmo lugares, com pequenas alterações de diálogos e ações, mas, neste caso, o diretor é mais aberto quanto às suas emoções e in finitamente mais sincero quanto às suas reais intenções. Em cada situação, um resultado diferente. A obra é bastante simpática e criativa, mas pressinto que exige um espectador mais comprometido, pois o fato de termos duas situações muito similares pode aborrecer um público mais ansioso ou imediatista. Gostei da sensibilidade do diretor em localizar as pequenas alterações necessárias para que os desenlaces fossem profundamente diferentes (ainda que tenha achado a reação emocional do diretor na cena do restaurante na segunda parte um pouco excessiva, quase assustadora - sei lá, eu teria pedido licença para ir ao banheiro e fugido do lugar sem olhar para trás! rs). Aliás, cabe mencionar que a principal diferença entre as duas situações encontra-se, principalmente, no personagem do cineasta. Se em uma história ele age desprovido de sentimentos, guiado por uma intenção meio canalha, na outra, ele se mostra profundamente emocional, é cuidadoso nas palavras e no trato com a pintora - até a empatia do espectador pelo personagem é diferente nos dois casos. O ritmo da obra é bastante lento - filme oriental, né - e a atmosfera é de sedução misturada com algum constrangimento. A obra traz uma fotografia pouco saturada, com paleta de cores neutras e enquadramentos bem convencionais - a impressão que me deu é que o diretor queria todo o foco na narrativa, sem que houvesse desvios de atenção para quesitos técnicos com fotografia ou direção de arte. Fiquei um pouco incomodada com algumas aproximações de câmera, um expediente que eu sempre relaciono com os filmes setentistas e que sempre me desagradou. A dupla de atores fez um trabalho excelente de interpretação, pois precisou ter sutileza para transformar duas narrativas muito parecidas em coisas bem diferentes (gosto muito da atriz Kim Min-hee, já conhecida das obras "A Criada", 2016, e "A Câmera de Claire", 2017). O filme é muito delicado e sutil, bastante agradável e muito sensorial. Gostei muito. Recomendo com carinho.
Comments