Filme do dia (180/2020) - "Close-up", de Abbas Kiarostami, 1990 - O diretor Abbas Kiarostami fica sabendo, através de uma revista, sobre um homem que se passava pelo diretor de cinema Mohsen Makhmalbaf. Intrigado acerca dos propósitos de tal homem, Kiarostami resolve pesquisar a questão.
Se eu já amava o diretor pelos maravilhosos "Através das Oliveiras" (1994), Gosto de Cereja" (1997) e "Cópia Fiel" (20100, passei a admirá-lo ainda mais com esse fantástico filme que tive o prazer de conhecer hoje. A obra é um quase documentário, com algumas cenas representadas pelos próprios agentes dos fatos. Sem ter qualquer texto prévio, exceto, talvez, em duas determinadas cenas (a de abertura e o momento de prisão de Sabzian), o diretor consegue retratar o sonho e a destruição desse sonho pela pobreza e falta de oportunidades que esta ocasiona. É um filme de uma sensibilidade imensa, pois exige que o espectador veja um pouco além dos fatos secos - e, aqui, no ocidente, tenho certeza que quase todo mundo terá dificuldade em superar essa barreira. O diretor perscruta as intenções de Sabzian - o homem que se fazia passar por Makhmabalf - e não encontra nada além do desejo de ser alguém admirado e respeitado, já que, pobre que era, fracassado aos olhos da sociedade, ele se sentia insignificante e seu amor por cinema e pelo filme "O Ciclista" (1987), do diretor Makhmabalf, levaram-no a sonhar com uma nova identidade. A obra mescla momentos de linguagem jornalística (a maior parte do tempo), com pelo menos uma cena onde toda a linguagem utilizada é de ficção, inclusive com movimentações de câmera e evidente marcação dos "atores". O ritmo é lento, mas dentro do esperado para um filme com fortes laços com o documentário. Não há qualquer trilha sonora, com exceção de uma cena (o desfecho). Todos os "atores" representam a si próprios - inclusive é curiosíssimo que, após um evento que chegou à Justiça Criminal, gerando um processo e um julgamento, todos tenham concordado em participar, juntos, do filme! Destaque absoluto: a cena onde Sabzian encontra o verdadeiro Makhmabalf - muito emocionante, principalmente pela reação de Sabzian. Não acho que vá agradar quem está muito acostumado ao cinema hollywoodiano, mas, quem curte cinema mais autoral, certamente vai apreciar, bastante, as particularidades do filme. Eu amei. Eu recomendo. PS- Que povo e sociedade estranhos, os iranianos. Nem sei explicar o quanto, só vendo o filme para entender.
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