Filme do dia (380/2020) - "Colheita Maldita", de Fritz Kiersch, 1984 - O médico recém-formado Burt (Peter Horton) e sua esposa Vicky (Linda Hamilton) viajam pelo interior dos EUA. Quando se aproximam da pequena cidade de Gatlin, , um terrível evento ocorre, interrompendo a viagem.
A obra, baseada no conto "Children of the Corn" (também o nome original do filme), de Stephen King, é um clássico dos filmes de terror oitentistas e deu origem a uma longeva franquia (o último filme data de 2011), cultuada pelos fãs. Havia assistido a algumas poucas cenas da obra e a imagem do personagem Isaac, um menino pregador, sempre me impressionou. Pois lá fui eu assistir ao filme, animadíssima, esperando algo no estilo "O Homem de Palha" (1973). Bom... realmente ambas as obras inserem-se no chamado "folk horror" e certamente há um diálogo entre as duas por tal motivo, mas, enquanto "O Homem de Palha" é irretocável, "Colheita Maldita" me deixou com um gosto de potencial desperdiçado na boca. O argumento é interessante: instigadas por um pregador mirim (o tal Isaac), crianças e adolescentes tomam o vilarejo de Gatlin , matando todos os adultos e iniciando um culto macabro que oferece sacrifícios humanos para uma entidade maligna que se esconde em um vasto milharal. O problema é como essa narrativa é conduzida. Para meu desgosto, o roteiro é truncado e opõe dois personagens que poderiam ser muito mais assustadores se melhor desenvolvidos: o menino pregador Isaac (o falso profeta) e o violento e revoltado Malachai (a besta). Ao longo da história, os dois personagens disputam o poder entre a garotada enfurecida - até aí tudo bem. O problema é que nenhum dos dois personagens é suficientemente desenvolvido e trabalhado, permanecendo, ambos, na superficialidade. Na realidade, não dá tempo do espectador se envolver e temer qualquer dos dois personagens, a gente, simplesmente, não se envolve com a história. Para piorar, o casalzinho romântico não tem química, age imbecilmente (como é comum em filmes de terror) e também não cria empatia com o espectador. Há, ainda, o núcleo de crianças boazinhas, na figura dos personagens Sarah e Job, sendo, o último, o narrador da história. O que a gente percebe? Tem personagem demais, tem núcleos demais e tempo de menos, de forma que nada é aprofundado. Daí, como o argumento era bacana, aquela sensação de desperdício de potencial. Junte ao roteiro truncado, efeitos especiais dos mais mambembes e o resultado é um filme com algumas cenas risíveis - é sério, eu ri em alguns trechos, algo inconcebível para um filme de terror que não seja "terrir". De tudo tudo, o que se salva é a figura medonha do personagem Isaac, um fanático mirim, que continuou me impressionando, e a ideia de um milharal assombrado - para mim qualquer milharal é assustador mesmo!!! (rs) Tecnicamente, é um filme "B" (C, D, E...), repleto de pequenas falhas, até mesmo de continuidade (como o cadáver estendido no chão que aparece em umas três posições diferentes, uma vergonha, o continuísta merecia uns tabefes!!!!). As interpretações são, em sua maioria, de medíocres a sofríveis: Peter Horton é ruinzinho, mas pior é Linda Hamilton, muito novinha ainda, e a anos luz da personagem Sarah Connor, a qual imortalizou na franquia "O Exterminador do Futuro". Também não gostei de Courtney Gains como Malachai, cheio de caras e bocas. Melhores estavam Anne Marie McEvoy como a pequena Sarah (a menininha tem um olhar penetrante) e, claro, John Franklin como Isaac (se fosse meu filho, eu trancava esse moleque no quarto, ele é muito sinistro, cara!). Sucesso ou não de público, o filme é ruinzim de doer. Quer enveredar pelo "folk horror"? Veja "O Estigmas de Satanás" (1971), "O Homem de Palha" (original de 1973, não a refilmagem), "A Bruxa" (2015) ou "Midsommar" (2019) (este último, controverso, tipo "ame ou odeie"). Esse aqui não rolou para mim não...
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