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hikafigueiredo

"Contos da Lua Vaga", de Kenji Mizoguchi, 1953

Atualizado: 23 de ago. de 2019

Filme do dia (98/2017) - "Contos da Lua Vaga", de Kenji Mizoguchi, 1953. Japão, século XVI. Durante uma sangrenta guerra civil, dois irmãos camponeses sonham em ascender na vida - Genjuro (Masayuki Mori) pretende enriquecer através da venda de suas cerâmicas e Tobei (Eitarô Ozawa) almeja tornar-se um grande samurai. O destino, no entanto, colocará em perspectiva seus ambiciosos sonhos de prosperidade.





A obra do mestre japonês Mizoguchi discorre acerca da ambição excessiva e da busca pela prosperidade e felicidade. Em linhas gerais, o filme conclui que a verdadeira felicidade está nas coisas simples e que as pessoas não precisam de muito para atingir uma existência plena. Critica-se, aqui, a ambição que cega, que anuvia a mente e que desloca as pessoas de seu caminho natural. Os personagens centrais Genjuro e Tobei mostram-se dois tolos, cegos pela ambição, ao contrário de suas esposas Miyagi e Ohama, muito mais sábias e centradas, as quais tentam alertar seus maridos de seus equívocos e do distanciamento destes da real felicidade. Para contar sua história, Mizoguchi envereda pelo mundo fantástico, que surge para "dar uma lição" no iludido Genjuro; quanto a Tobei, seu aprendizado se dará exclusivamente no plano real. Em ambos os casos, no entanto, as consequências nefastas das ações dos irmãos ambiciosos, recairão sobre as pobres esposas Miyagi e Ohama (para variar um pouco, mulheres se ferrando por conta das atitudes masculinas...). Destaque para a cena do ataque a Ohama, para a sequência inteira de Genjuro com Lady Wakasa e para a cena do retorno de Genjuro para casa - todas de arrepiar. A caracterização do Japão feudal está incrível e a fotografia P&B é maravilhosa, aproveitando excepcionalmente bem os ambientes abertos. Amei todas as sequências relacionadas ao universo sobrenatural e o uso da luz e da sombra para indicar a aproximação do mundo sombrio (em especial no solar de Lady Wakasa, onde, lentamente, a escuridão vai tomando o ambiente e envolvendo os personagens). As interpretações são perfeitas, mas é impossível não destacar o trabalho de Machiko Kyô como Lady Wakasa - ela parece levitar e sua capacidade de seduzir e envolver só se compara à de Lady Asaji, em "Trono Manchado de Sangue" (Kurosawa, 1957), maravilhosamente interpretada por Isuzu Yamada. O filme é realmente especial, uma obra prima, amei e recomendo com louvor.

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