Filme do dia (17/2023) – “Contrastes Humanos”, de Preston Sturges, 1941 – John Sullivan (Joel McCrea) é um bem-sucedido diretor de cinema de Hollywood, rico e famoso por conta de suas comédias. Incomodado por sentir que seus filmes não tinham valor social, Sullivan resolve que quer realizar dramas sobre a miséria e os contrastes sociais. Confrontado com o fato de jamais ter passado qualquer necessidade, Sullivan resolve conhecer a questão de perto e passa a viver como um sem-teto miserável.
Filme complicado esse, pois impossível situá-lo dentro de alguma grade de gênero. Muito embora tenha cenas de humor, está muito longe de ser uma comédia. Da mesma maneira, ainda que conte com cenas dramáticas, também lhe falta o “peso” do drama. Não bastasse essa dificuldade em defini-lo, ele ainda é extremamente irregular, pois tem momentos excepcionalmente bons, seguidos de passagens no mínimo equivocadas. O que mais me incomodou na obra foi uma representação da pobreza ofensivamente rasa, sem nenhuma crítica social e sem qualquer espessura – no filme, parece que a desigualdade social e a miséria existem por mágica e não em decorrência de toda a estrutura social estabelecida e da lógica capitalista inserida no contexto. Durante o filme, eu me perguntava constantemente qual seria o objetivo do diretor que, para mim, realmente não restou claro. Mas, uma coisa eu tenho de admitir: foi um dos filmes a que assisti que expôs mais escandalosamente o tratamento desigual atribuído às diferentes classes sociais pela Justiça, reafirmando a questão de que o “braço” da Justiça alcança diferentemente pobres e ricos. A narrativa começa com muita leveza, estando, as cenas cômicas, concentradas nos dois primeiros terços da obra. O último terço, por seu lado, pesa mais a mão no drama, mas mesmo a exposição das misérias humanas e de injustiças escabrosas mostra-se extremamente superficial e acrítica, não colaborando pelo aprofundamento da obra. A narrativa é linear, em ritmo moderado a intenso, adequado a uma comédia ligeira. A atmosfera é fluida – temos momentos de muita leveza, entremeados de outros mais soturnos, especialmente no terço final. Boa parte do roteiro é formado por “esquetes”, como é comum nas comédias, mas, de repente, o diretor “vira a chave” e envereda por um caminho mais dramático, quase outro filme. Tecnicamente, não vi grandes destaques, mantendo-se no padrão Hollywood da época. Quanto ao elenco, simpatizei com a interpretação de Joel McCrea, ele convence como bem-nascido sem noção em meio aos miseráveis. Seu par romântico – sim, porque não basta ter comédia e drama, também tem que ter romance – é Veronica Lake, que interpreta uma personagem sem nome, apesar de ter importância na trama. Eu não conhecia nada da obra de Preston Sturges e confesso que não achei o filme o melhor dos cartões de visita. Como adquiri um box com algumas obras de sua filmografia, terei outras chances de conhecer seus filmes. Não digo que detestei a obra, mas definitivamente esperava mais.
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