Filme do dia (135/2020) - "Cry Baby", de John Waters, 1990 - Baltimore, década de 50. Wade "Cry Baby" Waters (Johnny Depp) é um bad boy adolescente, líder de uma gangue de outsiders. Allison Vernon-Williams (Amy Locane) é uma moça certinha, da alta sociedade local. Os dois jovens se apaixonarão um pelo outro, contrariando a avó de Allison e gerando uma disputa entre a gangue do rapaz e um grupo de bem-nascidos.

O filme localiza-se no gênero musical e tem os dois pés no "trash". Eu diria que é uma leitura de John Waters do musical "Grease" (1978), porque o argumento é bem parecido. Tudo na obra é completa e propositalmente teatral e exagerado. As interpretações são histriônicas, mas isto é visivelmente intencional. Tudo é muito "over" e acho que isso que torna o filme engraçado e divertido. Claro que existe muita crítica embutida - não seria John Waters se não tivesse - direcionada à hipocrisia da sociedade e à justiça norte-americana. Aliás, o diretor adooora apontar seu dedo cirúrgico à sociedade norte-americana e ao "american way of life", mostrando tudo de podre que existe sob a aparente felicidade daquela gente. Novamente temos uma linda direção de arte de época - John Waters tem uma verdadeira obsessão pela década de 50 e todos os seus filmes têm uma estética voltada para aquela época. A fotografia é luminosa, bem saturada, com posicionamentos de câmera tradicionais, nada ou pouco sofisticados. A trilha sonora é totalmente anos 50, inclusive com o tradicionalíssimo "Mr. Sandman" entre as músicas e mais alguns rockinhos daquele tempo. As interpretações são suuuper forçadas, com muitas caras e bocas, terreno fácil para o jovem Johnny Depp, que está ótimo por sinal. Amy Locane está bem, apesar de lhe faltar certo tempero, mesmo quando transformada em bad girl. Claro que não podia faltar Ricki Lake, a queridinha de John Waters (junto com Divine), como Pepper Waters, irmã de Cry Baby, e a transgressora Traci Lords como Wanda, ambas ótimas em seus papéis. No elenco, ainda, o ícone Iggy Pop, e Willem Dafoe em uma pontinha como carcereiro cruel. Destaque para Kim McGuire como Mona "Hatched-Face" Malnorowski ("Machadinha"), o máximo do exagero. O filme é divertidíssimo - eu já tinha visto na época do lançamento, mas não me lembrava como era bacana. Para quem gosta de comédia trash é um prato feito. Delicioso. Recomendo (mas há que se gostar de filmes não realistas).
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