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hikafigueiredo

"De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick, 1999

Filme do dia (199/2020) - "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick, 1999 - O Dr. Bill Harford (Tom Cruise) e sua esposa Alice (Nicole Kidman) aparentam ser o casal perfeito vivendo um casamento perfeito. No entanto, em uma noite de revelações, Alice confessa ter tido desejos sexuais com outro homem, o que revela fraturas na relação e leva Bill a mergulhar nas profundezas de sua psique.





Última obra do diretor Kubrick, o filme, a princípio, discorre sobre as relações amorosas, os códigos de conduta, as aparências, a confiança, o rompimento dos acordos e, claro, o desejo. Mas, como de costume, eu sempre caço pelo em ovo e acabo observando coisas que mais ninguém se atenta, então, vi, na realidade, um filme feito por um homem para outros homens. Na minha opinião, a obra trata, afinal, da masculinidade frágil e do imaginário masculino, mergulhando fundo na psique dos homens. Mais uma vez, preciso me explicar. O personagem Bill é a imagem do homem forte, seguro e de sucesso. Essa, inclusive, é a autoimagem do próprio personagem. Mas, basta ele saber que sua esposa já sentiu desejo por outro homem - o que, vamos combinar, é absolutamente normal - que toda aquela autoimagem vai a pique e ele perde o chão e a confiança, partindo para uma jornada interior por seus medos e desejos mais escusos. E o que encontramos nessa jornada interior? Os símbolos mas evidentes da misoginia e masculinidade tóxica. Primeiro ele se envolve com uma prostituta, que é a representação da satisfação masculina através de uma relação de poder; depois a fatídica orgia (que, certamente, permeia os sonhos eróticos de milhares de cinéfilos do sexo masculino) - cara... a tal orgia é um festival de misoginia. Há a objetificação absoluta da mulher: são corpos, obviamente dentro dos "padrões" (mulheres brancas, magras, jovens e submissas), tão objetificados que não têm rosto ou história. Essa orgia podia ter outra "cara"; ela poderia ser inclusiva, mostrar mulheres empoderadas e fora dos padrões, mas isso não teria o mesmo impacto no imaginário dos homens, permeado pelos símbolos do machismo. Por isso afirmo que o filme foi feito para os homens e não para as mulheres. Como deixei claro, lógico que há diferentes níveis de leitura da obra e, portanto, ele pode atingir em maior ou menor grau qualquer público. A obra cria uma atmosfera de incômodo, tensão e ansiedade bem interessante. Visualmente, é um filme vistoso, com ambientes suntuosos, sofisticados e misteriosos. Gostei bastante da interpretação dos dois protagonistas: Tom Cruise está perfeito como o inseguro Dr. Harford - sua busca implacável pela retomada do poder e dos símbolos da masculinidade é muito instigante; já Nicole Kidman está maravilhosa como Alice, cheia de desejos recônditos e bem mais resolvida que o marido. Então... eu achei a obra riquíssima em leituras, mas esse fundo que eu relaciono com puro machismo me incomodou. Eu estava gostando bem mais do começo da obra, antes da "jornada" do Dr. Harford. De qualquer forma, é um filme com selo "Kubrick", o que garante uma qualidade bem acima da média. Eu não sei se realmente gostei... acho que preciso digerir um pouco, por isso deixo a recomendação em "stand by".

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