Filme do dia (461/2020) - "Deixa Ela Entrar", de Tomas Alfredson, 2008 - Oskar (Kare Hedebrant) é um menino de 12 anos, vítima de bullying na escola e descaso paterno. Ele sonha com um revide violento, mas isso permanece na sua imaginação. Certo dia, muda-se para o apartamento vizinho, a jovem Eli (Lina Leandersson), uma estranha garota da mesma idade de Oskar. Ao mesmo tempo, violentos assassinatos começam a ocorrer na cidade.
É possível um filme de terror ser poético e, até mesmo, sensível? Esta obra é a prova de que sim, isso é possível. O filme narra a história de envolvimento entre o mortal Oskar e a vampira Eli e como se estabelece uma relação de dependência entre o menino e sua "protetora". Antes de mais nada, precisamos lembrar que Eli, por suas próprias palavras, tem 12 anos "há muito tempo". Ela precisa de alguém que a proteja durante o dia, que esteja disposto a encobrir sua condição e seu segredo. Ao longo de sua existência imortal, Eli, provavelmente, envolveu inúmeros "Oskares", meninos frágeis, vítimas de violências diversas, para que fossem seus companheiros e fieis escudeiros, mas que, infelizmente não eram imortais como Eli e, de tempos em tempos, precisavam ser substituídos. O encontro com Oskar é exatamente o momento da "reciclagem", a época em que Eli precisa encontrar alguém com quem possa contar. A forma como Eli envolve Oskar é assustadoramente eficaz e, considerando a vivência de Eli, diria até cruel e maligna. Pois Eli não tem a inocência da criança que aparenta. Ela é uma anciã em corpo de menina. E Oskar é um garotinho acuado e machucado. Acho brilhante o xadrez que se estabelece. Acho incrível também como muitas coisas no filme não são o que aparentam, começando por Eli. O filme vai tratar de assuntos como dependência, amadurecimento, dedicação, afetos, acordos interpessoais, fragilidade física e emocional, adolescência. O filme é rico em assuntos e significados. Há, uma cena, em específico, que rapidamente revela uma circunstância acerca de Eli que é assustadora e, ao mesmo tempo, explicativa de muitas coisas (não posso dizer qual por ser spoiler, mas é na cena em que Oskar oferece o vestido de sua mãe para Eli - fiquem atentos). O filme é delicado e sombrio aos mesmo tempo e permanece, por muito tempo, em nossa mente. Para completar, a dupla de atores mirins é absurdamente boa e instigante. Kare Hedebrant exala fragilidade como Oskar, mas o personagem tem uma fúria interior, uma sede de vingança represada, assustadora; agora, ninguém se iguala a Lina Leandersson como Eli e seu olhar profundo, sua expressão que revela seu longo passado e experiência - a menina é um espetáculo!!!! Eu tenho dificuldade de escrever sobre esse filme de tanto que ele mexe comigo e eu gosto dele - se tudo o que eu escrevi ficou confuso, peço desculpas por minhas limitações. Recomendo demais como um filme de terror extremamente delicado e intimista. PS - fujam da refilmagem americana como um vampiro foge da cruz!!!
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