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hikafigueiredo

"Dias de Outono", de Yasujiro Ozu, 1960

Filme do dia (31/2021) - "Dias de Outono", de Yasujiro Ozu, 1960 - A jovem Ayako (Yoko Tsukasa) se nega a casar e abandonar sua mãe viúva, Akiko (Setsuko Hara). No entanto, os amigos de seu falecido pai estão decididos a intervir a favor de Shotaru Goto (Keiji Sada), um rapaz pretendente da moça.





Em mais essa obra do mestre Ozu, temos alguns temas recorrentes na cinematografia do diretor: as relações interpessoais marcadas por velhos costumes e as modificações nestes últimos decorrentes da modernização e ocidentalização do Japão. Assim, questões como as relações familiares, os casamentos arranjados, o respeito aos ancestrais e aos mais velhos são direta ou indiretamente tratados aqui. No filme, Ayako, uma moça de 24 anos, nega-se a casar e abandonar sua mãe viúva. Uma jovem mulher decidir pela solteirice era algo impensável nas décadas anteriores, mas algo que começava a se tornar comum na década de 1960 (sendo, inclusive, tema de outras obras do diretor). Os amigos do pai da moça e sua mãe, produtos de uma outra geração, inconformados com a decisão da garota, passam a criar complexos estratagemas para demovê-la da ideia, resultando em algo próximo a uma comédia de erros. O filme tem uma discreta comicidade, sem perder de vista, no entanto, a carga dramática costumeira de Ozu. O desfecho me soou melancólico, quase triste (sem spoilers). Algumas observações relacionadas ao choque de gerações no filme - enquanto as mulheres mais velhas (acima de 35/40 anos) sempre usavam quimono, as mais jovens, todas, sem exceção, usavam roupas ocidentais, vestidos rodados, blusinhas, scarpins; as mulheres mais velhas também sempre agiam com mais discrição e eram mais contidas do que as jovens, mais diretas e objetivas. As características do filme mantêm-se dentro das típicas do diretor: ritmo muito lento, planos médios, câmera fixa, pouca ação, muitos diálogos, poucas cores, pouca saturação. O elenco, repleto de profissionais conhecidos e recorrentes de Ozu, é encabeçado pela maravilhosa Setsuko Hara (essa atriz, estupenda, para mim faz parte do quarteto de atrizes japonesas perfeitas, junto com Kinuyo Tanaka, Machiko Kyo e Isuzu Yamada) como Akiko - suas personagens são sempre muito doces e contidas, mas seu olhar fala mais que todos os seus gestos juntos; Yoko Tsukasa (atriz da qual não me lembro) interpreta a filha Ayako, bem no papel, mas sem o brilho de Setsuko Hara; claaaaro que também temos Chishu Ryu, Keiji Sada e Shin Saburi; Gostei muito do trabalho de Mariko Okada como a extrovertida Yukiko. Mais um filme delicioso de Ozu. Recomendo, como tudo do diretor.

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