Filme do dia (54/2024) – “Do Sussurro ao Grito”, de Jeff Burr, 1987 – O idoso historiador Julian White (Vincent Price) é visitado pela repórter Beth Chandler (Susan Tyrrell) após a execução da sobrinha de Julian, Katherine, uma notória serial killer. Julian imputa a índole assassina de sua sobrinha à cidade onde eles viveram, Oldfield e, para comprovar sua teoria, apresenta quatro assustadoras histórias acontecidas no local.
Composto por quatro histórias diversas, ocorridas em épocas diferentes e tendo, como única conexão, o local geográfico onde aconteceram – a cidade de Oldfield, supostamente um local amaldiçoado –, e “costuradas” por uma quinta história que está ali justamente para fazer essa ligação, o filme acaba por ser um tanto irregular devido às naturezas e desenvolvimento bastante desiguais de cada arco que o compõe. A história de ligação é perceptivelmente a menos interessante, mas serve perfeitamente ao seu propósito, que é dar a liga entre as outras quatro, e ainda tem o indiscutível ícone do gênero, o ator Vincent Price (sou assumidamente fã dele e o acho sensacional em qualquer coisa que ele faça; tem Vincent Price, eu gosto). A primeira história, a que eu menos gostei, tem pouco terror sobrenatural (que, para mim, é o que vale), mas muito “terror real”, pois lida com questões extremamente presentes no cotidiano de qualquer mulher, discorrendo sobre machismo misoginia e violência de gênero. Eu diria que é uma história que dispara gatilhos e, a despeito de seu final sobrenatural e tosco (muito tosco), ele é profundamente palpável para o público feminino. Acredito que quem fez o roteiro sequer percebeu o quão próximo aquela narrativa está de qualquer mulher e confesso que a história me deixou bastante desconfortável. A segunda história, a minha preferida, tem um teor sobrenatural, mas, como a primeira, também tem elementos que a aproximam da realidade. Aqui temos um recorte racial, passível de disparar gatilhos nesse aspecto, e um desfecho aterrador que me remeteu ao filme “Johnny Vai à Guerra” (1971). Na minha opinião é a história com melhor desenvolvimento e com o final mais angustiante. A terceira história traz o mesmo elemento sobrenatural da segunda – ambas têm, em comum, tratar dos rituais de vudu – e consegue causar medo e angústia no espectador (eu não vou entrar no mérito da estigmatização das culturas e religiões de matriz africana porque pouco ou nada sei sobre o vudu para dizer se ele tem aspectos “x” ou “y” e a história nem sai do lugar comum, mantendo-se no nível mais raso do imaginário popular acerca do tema). A quarta e última história não tem nada de sobrenatural e versa sobre o quanto a violência – qualquer que seja ela – apenas alimenta mais violência. Como a primeira, a última história, a qual se passa durante a Guerra Civil estadunidense, tem base numa realidade triste e palpável, sendo perfeitamente factível. Essa história, inclusive, me remeteu a outro filme com o mesmo teor, o excelente “Os Meninos” (1976). Ainda que se trate de histórias muito diferentes, formalmente não existe grande diversidade entre elas – a linguagem é bem convencional e não existe qualquer arroubo criativo nesse aspecto. Também tenho pouco a destacar quanto às interpretações – além de Vincent Price, maravilhoso em toda a sua canastrice, destacaria Clu Gulager como Stanley (primeira história), Harry César como Felder (segunda história) e um trabalho interessante do elenco infantil na última história. No cômputo geral, eu gostei do filme e achei fofa a disposição de Vincent Price em trabalhar em um filme de iniciantes mais para “dar uma força” do que por qualquer outro motivo. Segundo o Justwatch, está em streaming no Amazon Prime.
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