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  • hikafigueiredo

"Domicílio Conjugal", de François Truffaut, 1970

Filme do dia (118/2022) - "Domicílio Conjugal", de François Truffaut, 1970 - Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) está casado com a professora de violino Christine (Claude Jade) e continua trabalhando em empregos precários e temporários. Quando Christine engravida, Doinel interessa-se pela oriental Kyoko (Hiroko Matsumoto) e o caso extraconjugal colocará em risco a relação do casal.





Continuação de "Beijos Proibidos" (1968), a obra retoma a jornada do personagem Antoine Doinel, iniciada com "Os Incompreendidos" (1959). Aqui nos deparamos com o protagonista adulto, casado e, em pouco tempo, aguardando o nascimento de seu filho. Enquanto sua esposa Christine mostra-se equilibrada e estável, Doinel continua em seu caminho errático, tanto profissional quanto afetivamente. Como nos filmes anteriores, o protagonista mostra-se confuso e instável, irresponsável, egoísta e passional e muito embora tenha verdadeiro afeto por Christine, logo envolve-se com outra mulher, incapaz que é de frear suas emoções e desejos. Apesar de possuir algumas qualidades pouco admiráveis, Doinel consegue cativar o espectador justamente por seu "mau jeito" em lidar com as coisas, de modo a evidenciar certa ingenuidade e imaturidade muito mais que um real mau-caratismo. Via de regra, a principal vítima das ações desencontradas do personagem é ele mesmo, que acaba se envolvendo em situações desconfortáveis e indesejadas. Também como os filmes anteriores, a obra se trata de um fragmento da vida do protagonista que, aqui, vai abordar o casamento e a paternidade, não com o peso e profundidade de um "Cenas de um Casamento" (1974), de Ingmar Bergman, mas com leveza e até mesmo certo humor. A narrativa é linear, em um ritmo lento para moderado e constante. A atmosfera é leve, principalmente ao retratar o cotidiano do casal e dos seus vizinhos. A linguagem cinematográfica da obra é bastante convencional, não trazendo grandes "invencionices". A fotografia colorida é suave, sem muito contraste ou saturação - como muitos filmes da época, a cor parece meio "desmaiada", nunca descobri por qual motivo. Os diálogos são curiosos, pois, muitas vezes, tratam de assuntos banais e questões corriqueiras. Como o protagonista Antoine Doinel, o ator predileto e mais recorrente de Truffaut, Jean-Pierre Léaud - é impossível descolar o personagem do ator, de tão marcado que ele ficou como o protagonista na série de filmes do diretor. Como Christine, a atriz Claude Jade, que confere à personagem o equilíbrio e sensatez inexistentes no protagonista, numa ótima interpretação. Como Kyoko, Hiroko Matsumoto - a personagem é propositalmente insossa, atraindo Doinel muito mais por ser uma figura exótica na França, já que oriental, do que por suas demais qualidades. A obra é leve e ligeira e seus 97 minutos de duração passam rápida e desapercebidamente. Claro que é um filme que trata de maneira superficial dos assuntos abordados, mas o "mergulho" aqui é no personagem, muito mais do que na temática em si. Eu gosto muito da sequência de filmes sobre Antoine Doinel e aqui não foi diferente. Além disso, Truffaut é sempre Truffaut, não deixa a peteca cair jamais. Eu gostei muito, mas precisa ser visto na sequência certa.

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