Filme do dia (439/2020) - "E Agora, Aonde Vamos?", Nadine Labaki, 2011 - Em um pequeno vilarejo do Líbano, cristãos e muçulmanos convivem pacificamente há anos. Uma série de eventos começa a minar a convivência pacífica dos habitantes, ocasião em que as mulheres da comunidade se unem para evitar que os desajustes virem um conflito armado.

Desde que assisti a "Cafarnaum" (2018), estou de olho na diretora Nadine Labaki. Com um sensível olhar acerca do mundo que a rodeia, a diretora nos premia com histórias e imagens poderosas, muitas vezes com um viés feminino e feminista, como no delicioso "Caramelo" (2007). Nesta obra, Nadine envereda pela temática dos conflitos de ordem religiosa, questão bastante sensível num país dividido entre cristãos e muçulmanos como o Líbano. Mais uma vez - já que, em "Caramelo", a diretora também aborda este tema -, Nadine aposta na sororidade entre as mulheres para buscar uma solução para os conflitos criados, majoritariamente, por homens e pela sociedade patriarcal. Na minúscula vila onde vivem, todas as mulheres já enterraram parentes - irmãos, maridos e, principalmente, filhos -, mortos em embates de fundo religioso. Cansadas de chorar sobre os túmulos de seus entes queridos, as mulheres apenas querem levar a vida em paz, sem nenhuma outra perda - nem que, para isso, tenham de criar situações absurdas para que os homens do vilarejo desviem suas atenções das rusgas religiosas. Com este olhar delicado e muito feminino, Nadine faz uma obra que se equilibra bem entre o drama e a comédia - não serão poucas as cenas em que o espectador terá ímpetos de rir das soluções encontradas por aquelas mulheres para desviar o "foco" dos homens da vila, ao mesmo tempo em que que há cenas em que todo o riso se esvairá, deixando, no lugar, uma angústia pesada. A narrativa é linear, com ritmo moderado, bastante agradável, e a atmosfera geral leve, adensando em algumas cenas. O filme, ainda, flerta com o musical, tendo duas ou três cenas que se aproximam desse gênero. Destaque absoluto para a poderosa cena inicial - as mulheres enlutadas caminhando, unidas, para os cemitérios cristão e muçulmano, localizados lado a lado, cada qual em uma das margens da estrada, todas carregando suas dores imensas e irmãs, independente da fé que professem. Destaque, também, para a cena final, com a derradeira e desesperada solução encontrada pelas moradoras para encerrar os conflitos - obviamente uma saída fantasiosa, mas que traz, com força, essa ideia de que a dor é a mesma entre cristãs e muçulmanas. O filme é, simplesmente, uma delícia. Eu o adorei e foi o suficiente para colocar Nadine Labaki como uma das minhas diretoras favoritas, ao lado da grande Agnès Varda. Recomendo demais.
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