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“Eddington”, de Ari Aster, 2025

  • há 5 horas
  • 3 min de leitura

Filme do dia (112/2025) – “Eddington”, de Ari Aster, 2025 – Maio de 2020, Novo México, EUA. Em meio à pandemia de coronavírus, o xerife Joe Cross (Joaquin Phoenix), indignado com decisões do prefeito Ted Garcia (Pedro Pascal), resolve se candidatar à prefeitura, aumentando a tensão já existente anteriormente entre os dois homens.


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Um faroeste moderno, que extrapola o gênero, incluindo elementos do drama e da comédia, e que trata de temas atuais com um humor ácido e muito deboche – essa é a obra de Ari Aster. Bastante divertido – principalmente pelo trabalho delicioso de Joaquin Phoenix –, o filme peca em tentar abarcar uma infinidade de temáticas diferentes, o que impede, claro, o aprofundamento de qualquer delas (ainda que acredito que essa tenha sido realmente a intenção do diretor). Temos, em um só tempo, a questão da pandemia e o lockdown obrigatório, a questão do “black lives matter” após o assassinato de George Floyd, a polarização ideológica, a manipulação das informações, o uso indiscriminado de redes sociais, a formação de opinião, o fenômeno do “coaching”, e, mais do que tudo, a paranoia e as teorias conspiratórias quer grassam pelo mundo, especialmente os EUA. O filme bombardeia o espectador com essas questões que surgem na tela, uma após as outras, aumentando ritmo até “explodir” no clímax da obra. A atmosfera é obsessiva e delirante, seguindo as ideias fixas do protagonista Joe, o qual age de uma forma impulsiva e paranoica. Uma coisa que me chamou a atenção é que eu não consegui estabelecer qualquer empatia por qualquer dos personagens – todos são, em maior ou menor grau, uns neuróticos ou, ao menos, acometidos de severas deficiências éticas e morais, com exceção de Michael, o policial negro. O tom de crítica impera – sobra munição para todos, a obra não permite ressalvas -, sempre com uma abordagem meio debochada. Eu percebi semelhanças desta obra com a anterior do diretor– “Beau Tem Medo” (2023) – a mesma atmosfera ansiosa e a correria sem fim, mas talvez menos delirante. O filme conta com uma câmera tensa, muito movimentada, especialmente no terço final. Fiquei sem entender muito bem quem era o grupo que chega à cidade e quais eram suas reais intenções – talvez me falte elementos para entender com precisão aquela sociedade estadunidense. O alto do filme são as interpretações do elenco estrelado, em especial de Joaquin Phoenix, sempre espetacular, que aqui interpreta o protagonista Joe Cross, um homem amargurado pelo suposto envolvimento pretérito de sua esposa Louise com o atual prefeito Ted Garcia. Joaquin Phoenix coloca em seu personagem uma paixão ilimitada, tanto pela esposa do protagonista, quanto por seu posto como xerife da cidade, e entrega uma atuação cirúrgica e impressionante; Pedro Pascal interpreta o prefeito Ted Garcia, um homem que tenta cumprir os protocolos impostos pelo combate ao coronavírus, mas que não se evade de, hipocritamente, fazer reunião de campanha para sua reeleição – o ator apresenta um trabalho consistente, coerente com o personagem; Emma Stone interpreta Louise, a esposa de Joe – ah, achei sua presença subaproveitada, ela é muita atriz para pouco personagem; Austin Butler interpreta o charlatão iniciado em coaching, Vernon – outro ator pouco aproveitado, muito embora tenha achado impagável seu monólogo na casa de Joe; Deirdre O’Connell interpreta a mãe de Louise, uma mulher raivosa e paranoica. Eu me diverti no filme, não senti suas 2h25min de duração, mas acho a obra menor que “Hereditário” (2018) e “Midsommar” (2019) – eu acho que Ari Aster deveria continuar no nicho do terror, ele é muito melhor nisso. Eu gostei, mas recomendo com ressalvas. Vigésimo sétimo filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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