Filme do dia (420/2020) - "Elis", de Hugo Prata, 2016 - Rio de Janeiro, 1964. A jovem cantora gaúcha Elis (Andreia Horta) desembarca de um ônibus, junto com seu pai, para tentar a sorte na Cidade Maravilhosa. Rapidamente é descoberta pelos produtores Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado) e Luis Carlos Miéle (Lúcia Mauro Filho) que a colocam para cantar em sua casa noturna, abrindo as primeiras portas para a talentosa cantora.

Nesta cinebiografia, acompanhamos a carreira da cantora Elis Regina, desde sua chegada no Rio de Janeiro, aos dezoito anos, até sua morte, em 1982, em decorrência de uma overdose de cocaína e álcool. Ainda que a narrativa seja gostosinha e fácil de acompanhar, ela me soou excessivamente protocolar, evitando, a todo custo, mostrar o lado menos "bonito" da cantora, que era conhecida por sua personalidade forte e posicionamentos controversos - a obra só falta canonizar Elis Regina, que, pelo filme, não parece ter qualquer mácula na história de vida, e vamos e venhamos, é evidente que isso é irreal. Até a morte da cantora por overdose acaba parecendo deslocada no filme, pois o envolvimento dela com drogas e álcool é mostrado muito superficialmente ao longo da narrativa. Claro que o que se perde em veracidade, ganha-se em leveza e na facilidade em conquistar diferentes públicos (talvez se a vida da cantora fosse mostrada numa ótica menos cor-de-rosa, parte dos fãs se sentisse melindrada, né?). A narrativa é bastante - diria até, excessivamente - convencional, em tempo linear e ritmo agradável. Na minha opinião, a cantora - que não era assim tão convencional - merecia uma pouco mais de ousadia na sua cinebiografia, com um filme um pouco mais autoral e menos comercial. De todo modo, eu assisti ao filme sem grandes expectativas e acabei me surpreendendo positivamente. Achei um pouco sem graça que tenham sido usadas as gravações originais da cantora, de modo que a atriz Andreia Horta tenha apenas dublado a Elis Regina - acho que teria sido interessante uma interpretação original de quem a interpretasse, ainda que entenda a dificuldade em achar uma voz à altura da de Elis. Por outro lado, achei a interpretação de Andreia Horta incrível - várias foram as cenas em que "vi" a cantora na atriz de uma maneira assustadora, parecia que Elis Regina havia revivido do além! Também curti o trabalho de Lúcio Mauro Filho como Miéle e de Caco Ciocler como César Camargo Mariano. O filme, enfim, é interessante, ainda que a história da cantora tenha sido bem suavizada. Eu curti e recomendo.
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