“Entre Sonhos e a Esperança”, de Farnoosh Samadi, 2025
- hikafigueiredo
- 19 de out.
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Filme do dia (92/2025) – “Entre Sonhos e a Esperança”, de Farnoosh Samadi, 2025 – Um homem trans e sua namorada viajam a uma pequena vila no interior do Irã na esperança de conseguir a autorização do pai para fazer sua transição de gênero, mas a família segue irredutível.

Filmes da Mostra de Cinema, por vezes, são uma loteria. Você lê a sinopse, ela te agrada e você se lança no espaço, sem saber qual será o resultado. Muitas vezes você descobre pérolas, filmes maravilhosos; por outras, dá de cara com obras que só te fazem perguntar “por quê?”. Esse foi o caso deste filme – uma loteria. A obra iraniana aborda um tema surpreendente – a transição de gênero dentro daquela sociedade patriarcal, religiosa e conservadora. E qual não foi a minha surpresa em descobrir que, sim, a transição de gênero é permitida no Irã! Claro que obedece a uma burocracia kafkaniana – o que, na minha opinião, não está errado, já que é uma decisão que, em alguns casos, pode ser irreversível e não comporta arrependimento – e a autorização do patriarca da família – aí que reside o problema. Na história, Azad é um homem trans que precisa voltar ao seu vilarejo natal para conseguir, do pai, a assinatura da autorização para sua transição de gênero. Ocorre que o pai é religioso, muito tradicional e, claro, extremamente machista e controlador, e nada parece convencê-lo a assinar a documentação. O filme estava se desenvolvendo bem – nada excepcional, mas também sem maiores problemas -, mas, no terço final, eu não sei o que aconteceu, a obra se perdeu de um tanto que eu nem sei como explicar. Há uma determinada cena em um celeiro, que, por Deus, que coisa equivocada e inverossímil, me deu até raiva! Daí o filme degringolou e desceu ladeira em velocidade “warp”. Eu dou o desconto pela abordagem de um tema que é espinhoso em qualquer lugar do mundo e por oferecer uma visão do Irã que vai de encontro a tudo aquilo que nos é passado frequentemente – um país atrasado, cuja religião interfere em tudo e onde as pessoas vivem sob o jugo dos aiatolás... bom, o filme mostra que não é bem assim e que existe vida para além dos estereótipos. Dou desconto também porque acho que as atrizes se esforçaram sinceramente – Feresteh Hosseini (a mesma atriz de “Cinema Jezireh”) como Azad e Sadaf Asgari como sua namorada - ainda que, na tal cena do celeiro, as atuações tenham ficado, no mínimo, esquisitas (mas acho que a culpa não foi delas e sim da diretora). Não é um filme que eu repetiria, mas não cheguei a me arrepender de tê-lo visto justamente por me fornecer informações tão surpreendentes. Foi o sétimo filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.



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