top of page

“Era Uma Vez em Gaza”, de Tarzan Nasser e Arab Nasser, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 2 horas
  • 2 min de leitura

Filme do dia (104/2025) – “Era Uma Vez em Gaza”, de Tarzan Nasser e Arab Nasser, 2025 – Gaza, 2007. Yahya (Nader Abd Alhay) envolve-se em um esquema de tráfico de drogas, que resulta em um acontecimento trágico. Anos depois, ele é escolhido para participar de um filme e isso lhe dará a chance de vingar-se de seu algoz.


ree

 

Ainda que represente Gaza, um local tomado pela tragédia, o filme traz certa leveza e uma dose considerável de humor. Mesclando diferentes gêneros – que vão do drama ao western e da comédia à ação – a obra aborda a questão palestina por uma ótica completamente diferente da usual. A narrativa tem dois momentos: no primeiro, temos o tímido e desajeitado Yahya que se vê envolvido, quase sem querer, em um esquema de tráfico de drogas que acaba muito mal. No segundo momento, reencontramos Yahya que, subitamente, é convidado para ser a estrela de um filme de ação por ser fisicamente muito semelhante a um herói e mártir palestino que lutava contra a ocupação israelense. A grande sacada do filme é que ele demonstra que qualquer obra de ficção depende da construção de um discurso que representa um determinado ponto de vista. Estamos acostumados a ver filmes nos quais os árabes são representados como terroristas e, por isso, os grandes vilões. Mas, para uma população oprimida pelos israelenses, vivendo em péssimas condições de vida, alguém que lutasse – luta armada mesmo - por sua libertação seria, logicamente, seu herói. O filme fictício que está sendo produzido naquele universo ficcional é uma espécie de “Rambo” palestino que luta contra os sionistas, tendo o personagem Yahya como seu intérprete. E é neste segundo momento que temos não apenas os melhores alívios cômicos, mas, o conteúdo que nos põe para pensar. A obra é, em grande parte, metalinguística, já que temos um filme dentro do filme. As cenas das filmagens são todas muito divertidas, mas, não se engane, temos, também, bastante tensão nesse segundo momento. Há uma cena específica em que aparece, muito rapidamente, a área ocupada por Israel e, depois, passamos para a parte palestina de Gaza – é bem complicado perceber a diferença brutal de realidades. O elenco é encabeçado por Nader Abd Alhay como Yahya – é bem interessante a construção do personagem, pois ele é meio “bobalhão”, mas ele precisa interpretar um herói nacional destemido e o diretor começa a orientá-lo a como atuar e, aos poucos, ele vai assumindo aquela personalidade valente e mudando sua postura e olhar. No papel do amigo Osama, Majd Eid, como o policial Abou Sami, Ramzi Maqdisi e como o diretor do filme, Issaq Elias. O filme é ótimo, super criativo, tendo sido agraciado com o Prêmio de Melhor Direção na seção Un Certain Regard no Festival de Cannes (2025). Gostei demais. Décimo nono filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

Comentários


bottom of page