Filme do dia (08/2022) - "Eu Te Amo, Eu Te Amo", de Alain Resnais, 1968 - Após se recuperar de uma tentativa de suicídio frustrada, Claude Ridder (Claude Rich) é convidado a participar de um experimento sobre viagem no tempo que lhe permitiria reviver alguma passagem de sua vida. Quando a experiência dá errado, ele fica perdido na sua memória.
Muitos anos antes do ótimo "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (2004), este filme trabalhou a questão do tempo e da memória, os quais se "embolam" formando uma grande "massa" de reminiscências. Na história, graças a um erro no experimento, o protagonista fica perdido no seu passado, mergulhado em lembranças aleatórias de momentos banais ou extraordinários da sua vida, sem conseguir retornar ao tempo presente. Tais memórias não seguem qualquer lógica ou fio condutor, apenas "acontecem", por vezes, repetidamente. O que torna o filme extraordinário é a maneira como a narrativa é conduzida. Com tempo absolutamente não-linear, a narrativa é completamente fragmentada, como um complexo quebra-cabeça que espectador precisa separar as peças e remontar para ganhar sentido. Se durante um bom tempo, o público sequer consegue entender os acontecimentos relacionados ao passado do protagonista, ao fim do filme é possível estabelecer toda a cronologia da vida do personagem sem grandes dificuldades. Claro que existe um estranhamento do espectador por este formato tão pouco convencional, mas ele é acompanhado por uma curiosidade crescente acerca do histórico do personagem, de forma que espectador fica "preso" na obra até chegar ao seu desfecho. O ritmo é bem marcado, conduzindo a narrativa errática por caminhos tortuosos. A atmosfera é de curiosidade inicial que, paulatinamente, transforma-se em angústia e apreensão - o espectador sente-se agoniado pelo protagonista não conseguir retornar de sua viagem às memórias mais recônditas, vivenciando, sem parar, alguns trechos de seu passado. Até para ter maior liberdade na edição, o diretor privilegiou planos médios e câmeras fixas, inexistindo movimentos de câmera ao longo da obra. O elenco principal traz Claude Rich no papel do protagonista - pela própria fragmentação da narrativa, que impede que acompanhemos a evolução do personagem, é difícil tecer comentários acerca da interpretação do ator, mas, ao menos aparentemente, seu trabalho esteve a contendo; Olga Georges-Picot interpreta Catrine, um antigo relacionamento de Claude; Anouk Ferjac interpreta Wiana. A obra é, no mínimo, ousada e inovadora, sendo uma grata surpresa do diretor dos espetaculares "Hiroshima, Mon Amour" (1959) e "O Ano Passado em Marienbad" (1961), este último meu filme predileto da Nouvelle Vague (que, por sinal, tem temática conexa à deste filme, pois também discorre sobre a memória). Filme interessantíssimo, gostei demais e recomendo.
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