Filme do dia (99/2023) – “Fale Comigo”, de Danny Philippou, Michael Philippou, 2023 – Um grupo de jovens descobre uma mão embalsamada que tem o poder de conjurar espíritos. Eles se reúnem para fazer sessões onde eles entram em contato com tais espíritos, mas acabam perdendo o controle da situação.
Filmes de terror, via-de-regra, não têm muito meio-termo: ou são ótimos ou são péééééssimos. Esta obra, indubitavelmente, pertence ao primeiro grupo, oferecendo uma narrativa instigante e assustadora, em especial para os amantes de histórias que envolvam o sobrenatural. Mia é uma jovem em depressão pela morte prematura de sua mãe. Com pouquíssimos amigos e com um relacionamento truncado com seu pai, ela se sente só e deslocada no mundo. Certo dia, ela é chamada para uma reunião entre amigos em que eles “brincam” com uma mão embalsamada que pode conjurar espíritos. Em busca de aceitação, ela entra na brincadeira, sem saber que será presa fácil para o mal e que será completamente envolvida pelo além. A obra se mostra bastante interessante por ter duas camadas bem definidas. Evidente que a primeira camada é a narrativa assustadora, cujo objetivo final é simplesmente entreter o espectador, o que faz com facilidade. Mas existe, ainda, uma segunda camada, mais psicológica do que aterrorizante, e que faz a diferença no conjunto da obra, que é a situação de solidão e abandono da protagonista. O próprio título do filme, além de se referir à frase usada pelos jovens para contatar o mundo espiritual, é também o pedido de ajuda que ecoa internamente na personagem principal. A história inteira desenvolve-se em torno desse sentimento de solidão e de busca de comunicação com os demais de Mia, com um foco especial na sua situação familiar, já que existem questões não resolvidas entre a jovem e seu pai e que o contato com o mundo espiritual parece ter o poder de resolver. A narrativa é linear, com uma ou duas pequenas cenas de flashback. O ritmo começa vagaroso, mas aumenta gradativamente até tornar-se frenético. A atmosfera inicial é de angústia, muito marcada pela situação interior de Mia, mas, ao longo da história, a tensão e o medo juntam-se fortemente a essa angústia, fazendo um “combo” de deixar qualquer espectador crispado na cadeira do cinema. Ainda que a obra seja basicamente um terror psicológico “brabo”, temos as tão esperadas cenas de jumpscare e uma ou outra mais voltada ao gore (mas pouco). O argumento, em si, nem é tão original, pois existem inúmeros filmes que aproveitam o mote “falar com os espíritos”, mas o desenvolvimento da narrativa é especialmente bem costurado, e tem até um tanto de mindfuck, pois, a certa altura, a realidade e a “versão Mia da realidade”, ou, ainda, o mundo natural e o espiritual, começam a se misturar e só mesmo ao fim do filme, parando para pensar, que o espectador consegue separar o que pertence a cada “ambiente”. Eu gostei bastante da linguagem cinematográfica empregada – ainda que a maior parte da narrativa seja convencional, temos vários momentos em que essa narrativa é subvertida e aí temos, então, diferentes “pontos de vista”, isto é, o que Mia vê, o que os outros personagens veem, com a câmera assumindo o lugar de cada um. Os efeitos visuais e a maquiagem são muito bons e sem qualquer dúvida ajudam demais no estabelecimento da atmosfera de terror. O elenco não decepciona e é encabeçado por Sophie Wilde, suficientemente bem para dar credibilidade à personagem Mia; Alexandra Jensen interpreta Jade e está bastante bem, assim como Miranda Otto, que interpreta a personagem Sue – na minha opinião, ambas conseguem transmitir uma urgência maior que Sophie Wilde. No elenco, ainda, Otis Dhanji como Daniel, Joe Bird como Riley, Marcus Johnson como Max e Alexandria Steffensen como Rhea. Confesso que o filme me perturbou acima do comum dentro do gênero, muito pelo sofrimento dos personagens. Fiquei impactada positivamente. Recomendo bastante.
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