Filme do dia (231/2017) - "Feliz Natal" de Selton Mello, 2008 - Caio (Leonardo Medeiros) retorna para sua cidade natal após anos distante. Na noite de natal, Caio chega à casa de seu irmão Théo (Paulo Guarnieri), é recebido por sua cunhada Fabiana (Graziella Moretto) e reencontra sua mãe (Darlene Glória) e seu pai (Lúcio Mauro). Mas a realidade não é um conto de fadas.
No filme de estreia de Selton Mello como diretor, temos um retrato sensível da solidão humana e da hipocrisia da sociedade. Em meio à falsa alegria das comemorações de natal, cada personagem lida de diferentes formas com sua solidão, às vezes fugindo dela (através do álcool, do sexo, do trabalho), negando-a, às vezes assumindo sua existência e confrontando-a. É uma obra triste, angustiada, o vazio existencial é palpável. O ritmo é pausado, vagaroso. Apesar de sua habilidade em transmitir a solidão dos personagens, o roteiro não me agradou completamente - há certo suspense quanto a um episódio traumático na família envolvendo Caio que, quando revelado, mostrou-se dramático, mas vulgar, eu esperava alguma coisa diferente. Também é meio nebuloso se a família de Caio é disfuncional por causa de tal evento ou se a ocorrência se deu justamente por conta da família ser problemática. Por outro lado, o que o roteiro tem de frágil, o filme esbanja qualidade nos quesitos técnicos. A fotografia é maravilhosa, toda em tons sépia, transmitindo toda a melancolia que a história exige. A qualidade de som é excepcional, cada mínimo ruído pode ser percebido, o que também colabora com aquela sensação de vazio. Quanto às interpretações, todos os atores estão muito bem, mas gostei muito da expressividade de Paulo Guarnieri (a cena em que ele vê Caio chegando e sua expressão facial muda drasticamente é fantástica). É fato que Selton Mello apresenta, na obra, uma direção muito segura, apesar da inexperiência. A obra é uma grata surpresa, muito sensorial, gostei bastante e recomendo.
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