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“Foi Apenas um Acidente”, de Jafar Panahi, 2025

  • hikafigueiredo
  • 28 de out.
  • 2 min de leitura

Filme do dia (115/2025) – “Foi Apenas um Acidente”, de Jafar Panahi, 2025 – O ex-prisioneiro político Vahid (Vahid Mobasseri) acredita ter reencontrado seu torturador Eghbal (Ebrahim Azizi). Ele pretende se vingar, mas a dúvida quanto a identidade da pessoa e o medo de cometer uma injustiça o impedem de tomar a atitude pretendida.


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Mesclando drama político e suspense, o diretor iraniano Jafar Panahi entrega uma obra sensacional sobre liberdade, ética e justiça ambientada no Irã, sua terra natal. Tendo sido, o próprio diretor, um preso político em seu país, o filme é uma crítica feroz ao atual regime iraniano, denunciando as atrocidades que acontecem nos porões das prisões do país. Como é comum no cinema iraniano, o filme é profundamente humanista, defendendo, com convicção, a ética nas relações interpessoais e a necessidade de se agir conforme seus valores pessoais. Na história, o trabalhador Vahid depara-se, acidentalmente, com um homem que ele acredita ser Eghbal, seu torturador quando preso político. Quando está prestes a eliminá-lo, surge a incerteza quanto a real identidade daquele homem. Ainda que tenha agido por impulso, Vahid percebe que pode estar cometendo uma grande injustiça. Diante da dúvida, Vahid procura outros antigos prisioneiros para tentar elucidar a questão. O que, num cinema mais brutal e violento como o estadunidense, poderia virar um banho de sangue, aqui se torna um suspense impregnado de drama humano, uma obra que demonstra não apenas sensibilidade, mas uma forma mais ética de passar pela vida e até mesmo certa inocência. A narrativa é construída de uma maneira bastante convencional, o que não a impede de se desenvolver genialmente, inclusive contando com elementos de humor que funcionam como alívios cômicos. A situação que se estabelece é bem absurda, mas, ao contrário de fazer da história algo inverossímil, enche a narrativa de dramaticidade e tensão. Como outros filmes de diretores iranianos, temos a lógica da “bola de neve” – uma situação inicial que vai se agravando gradativamente -, muito embora tenha um desfecho menos trágico do que em tais obras (como nos filmes de Asghar Farhadi). Com um ritmo moderado, mas crescente, a narrativa tensa instiga o espectador com a dúvida, mantendo o suspense até bem próximo do fim. É uma obra que vagarosamente envolve o público, até arrebatá-lo por completo. Confesso que fiquei enfeitiçada pelo filme. A obra, aclamadíssima tanto pelo público, quanto pela crítica, vem fazendo arrastão pelos festivais por onde passa, tendo sido agraciada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2025. Eu amei e recomendo muito. Trigésimo filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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