Filme do dia (155/2020) - "Ford vs Ferrari", de James Mangold, 2019 - Década de 60. O piloto Carroll Shelby (Matt Damon) torna-se o primeiro americano a ganhar a corrida 24 horas de Le Mans, na França. Um problema de saúde o afasta das pistas, fazendo com que outros caminhos se abram para o corredor.
Hesitei muito em assistir a esse filme. Acho filmes sobre carros e corridas um saco, e os evito no limite. No entanto, os inúmeros elogios feitos pelos amigos cinéfilos me convenceram a arriscar. E foi uma boa aposta. Ainda que a obra discorra sobre carros e corridas, ela dispensa muito mais atenção na relação entre os pilotos Shelby e Miles e nos bastidores das corridas, em especial na rivalidade entre os executivos da Ferrari e da Ford. Lá pelo meio do filme, temi que a obra enveredasse para uma coisa meio ufanista, já que tratava da Ford, empresa norte-americana como a produção do filme. Mas, para a minha surpresa, os executivos da Ford, dentre eles Henry Ford II e o famoso Lee Iacoca são, na maior parte da história, retratados como uns tremendos de uns babacas, pouco competentes, sem criatividade e, acima de tudo, canalhas, muito canalhas - e eu adorei isso. Dos executivos das empresas envolvidas, o único retratado com dignidade é, quem diria, Enzo Ferrari, o manda-chuva da empresa italiana. A narrativa é linear e o ritmo é bem marcado, com vários picos de tensão. Há vários momentos de indignação, todos por conta dos engravatados da Ford - espero que as ações da empresa tenham caído depois do filme,viu, que bando de fdp. O roteiro prende o espectador, mesmo aquele que, como eu, não dá a mínima para esportes de motor. Gostei de como conduziram os trechos das corridas - um pouco dentro do carro, um pouco fora do veículo, de forma a não ficar maçante. Curti a caracterização da época, as roupas, os carros, as ambientações. A montagem e a edição de som são tão excepcionais que mereceram, ambas, os Oscares de suas categorias em 2020. Quanto ao elenco, Matt Damon só interpreta Matt Damon há, pelo menos, uns 15 anos, e aqui não foi diferente - um indivíduo que é cheio de qualidades, mas também é humano, falha eventualmente, mas é repleto de boas intenções, etc, etc , etc. Mais interessante é o personagem e a interpretação do excelente Christian Bale - ele interpreta Miles, um sujeito extremamente talentoso, mas voluntarioso na mesma medida, sem papas na língua e com uma determinação única, tendo, Christian Bale, concorrido ao Oscar de Melhor Ator pelo papel; Jon Bernthal (conhecido por suas atuações em The Walking Dead e O Justiceiro) faz o quase intragável Lee Iacoca; Josh Lucas faz o papel do totalmente intragável Leo Beebe e Tracy Letts, o de Henry Ford II, o pai de todos os idiotas; Destaques: a cena da corrida de Le Mans; a briga entre Shelby e Miles; e a deliciosa cena de Lee Iacoca negociando com Enzo Ferrari. Cena que poderia ter ficado de fora - a cena do piti de Mollie, totalmente machista e dispensável. O filme é bem bom, tanto que não senti suas 2h32min de duração. Vale a pena, em especial por retratar a podridão do mundo corporativo (executivos deveriam servir como alimento para caldeira...). Recomendo.
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