“Frankenstein”, de Guillermo del Toro, 2025
- hikafigueiredo
- há 3 dias
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Filme do dia (126/2025) – “Frankenstein”, de Guillermo del Toro, 2025 – Mar do Norte, 1857. Um navio em direção ao Pólo Norte encalha no gelo. Enquanto a tripulação tenta, em vão, soltar o navio, uma explosão ocorre em meio ao gelo. Os tripulantes correm para o local para verificar o que aconteceu e encontram um homem gravemente ferido. Levado às pressas à embarcação, ele começará a contar a sua história.

Nesse surpreendente drama gótico – sim, porque eu me nego a considerá-lo um filme de terror simplesmente – temos a contundente história de um cientista genial e egocêntrico e de sua trágica criação. Dividida em três módulos – prólogo, a visão do criador e a visão da criatura -, a obra é uma adaptação livre do romance homônimo de Mary Shelley. O filme, como nenhum outro até então, tenta captar as nuances de perspectiva do cientista e, também, da criatura por ele engendrada. Na história, somos apresentados à infância do futuro cirurgião Victor Frankenstein, uma infância dolorosa, submetida aos caprichos de um pai ausente e pouco misericordioso. Após a perda precoce da mãe, o jovem Victor define como meta de vida, subjugar e vencer a morte. Adulto, é expulso da Academia de Medicina por suas pesquisas, consideradas aviltantes e heréticas. Obcecado pela ideia de dominar a morte, egocêntrico e sem qualquer empatia, Victor consegue dar vida a uma criatura formada pelos restos mortais de inúmeros condenados à morte, surgindo assim, a criatura. Considerada monstruosa por seu próprio criador, a criatura mostra-se profundamente humana, sensível e empática, ao mesmo tempo em que se questiona acerca de si e da realidade que o cerca, inclusive quanto a sombria humanidade. Assim, a narrativa debruça-se sobre as dores, dúvidas e carências da criatura, além de um profundo vazio existencial que ela sente por não conseguir se autodefinir. O diretor alcança tão intensamente os sofrimentos da criatura que o espectador sofre junto a ela – por isso não consigo ver a história como do gênero terror ou, mesmo, ficção científica; para mim a narrativa é um drama dos mais dolorosos! Victor, por sua vez, aglutina em si algumas das piores características dos seres humanos – inveja, ciúme, mentira, crueldade, arrogância, Victor consegue ter todas essas “bençãos”. Em contraposição, temos a criatura e a terna Elizabeth, noiva do irmão de Victor, que imediatamente entende que o suposto monstro é um ser puro e imaculado, estabelecendo uma conexão quase metafísica com a criatura. A narrativa trata da essência dos seres – humanos ou nem tanto -, da busca por conhecimento e respostas e da redenção final. Bom... prepare-se para sofrer. O filme traz um desenho de produção apuradíssimo, com clara influência gótica, bem ao gosto do diretor – destaque absoluto para os figurinos etéreos de Elizabeth (e, também, da mãe de Victor), que fazem com que ambas tenham um quê de aparição sobrenatural. A concepção visual da criatura merece igual destaque – ainda que assustadora, considerando sua pele pálida-azulada, suas cicatrizes e suas vestimentas rasgadas, a aparência da criatura ainda mantém traços humanos e consegue fazer com que o espectador se aproxime do personagem. Quanto ao elenco, Oscar Isaac foi uma ótima escolha para interpretar Victor, ele imprime ao personagem tal empáfia, tal dificuldade em entender o outro, que rapidamente compreendemos quem é o verdadeiro monstro; Jacob Elordi, por sua vez, está sensacional como a criatura – faço um mea culpa: em nunca gostei do ator, eu achava que ele era mais bonito do que um bom intérprete e, aqui, ele calou a minha boca: a linguagem corporal de sua criatura é marcante e convincente sem ser exagerada, ele consegue dar nuances, espessura, ao personagem! O ator está realmente muito bem! Mia Goth interpreta Elizabeth e aqui é o contrário – eu adoro a atriz, acho que ela está muito bem como a personagem, mas acho que está aquém do talento dela. Christoph Waltz interpreta Henrich Lavenza e dá show (como sempre); no elenco, ainda, Lars Mikkelsen como Capitão Anderson, Felix Kammerer como William, David Bradley como o velho cego e Charles Dance como Barão Leopold Frankenstein. O filme está estupendo, alcança todas as dimensões da criatura e de seu criador e ainda é visualmente fascinante. Amei e recomendo. Atualmente na grade da Netflix (produção própria, inclusive).



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