Filme do dia (21/2020) - "Gabriel e a Montanha", de Fellipe Gamarano Barbosa, 2017 - Gabriel Buchmann (João Pedro Zappa) é um jovem viajante brasileiro que se aventura por terras africanas. Cheio de sonhos e planos, Gabriel despede-se de sua namorada Cristina (Carol Abras) em Zâmbia e, então, segue para o Malawi, decidido a subir o Monte Mulanje após quase um ano de viagem pelo mundo e prestes a voltar para o Brasil. Mas o rigor desta montanha colocará um fim nos planos do jovem.
Antes de mais nada... o filme é incrível. Tristíssimo, mas incrível. Uma espécie de "Na Natureza Selvagem" brasileiro, a obra recria a história real de Gabriel Buchmann, a partir de setenta dias antes de seu desaparecimento no Monte Mulanje. Através da câmera do diretor Fellipe Gamarano Barbosa, amigo de infância de Gabriel, acompanhamos seu trajeto por diversos países africanos, sozinho, por vezes, ou acompanhado da namorada Cristina, por outras, e encontramos pessoas reais que cruzaram ou conviveram com o verdadeiro Gabriel ao longo destes setenta dias, que aqui concordaram em "atuar" no filme, interpretando a si próprios, e contracenar com o ator João Pedro Zappa e a atriz Carol Abras nos papéis de Gabriel e Cristina. Justamente por conta dessa proximidade com o real, é um filme emocionante e emocional, sem cair, em momento algum, na pieguice. É interessantíssimo perceber como o diretor conseguiu captar a complexidade do jovem Gabriel - o "personagem" tem "espessura", ele é complexo, ele pode ser, num momento, o rapaz simples e generoso com todos, alegre e sonhador, e, em outro, uma pessoa arrogante e com atitudes babacas, enfim, uma pessoa "real" e não a idealização de algum "herói". Também é curioso como, ao longo do filme, o espectador vai mudando os sentimentos por Gabriel - a maior parte do tempo eu simpatizei demais com o jovem, queria tê-lo no meu rol de amigos, o que não me impediu de achar algumas atitudes dele irritantes e detestá-lo em alguns momentos. Outra coisa bárbara, é ver os locais reais por onde Gabriel passou, locais distantes, isolados, exóticos, em diversos países da África que, usualmente, os viajantes não vão. A direção de Fellipe Gamarano Barbosa é excepcional, repetindo (talvez até ultrapassando) o ótimo trabalho que ele já havia demonstrado no excelente filme "Casa Grande" (2014). Tecnicamente, o filme é impecável - fotografia, som, montagem, tudo está perfeito. Os atores reais que participaram, por sua vez, mostraram-se maravilhosos, pois conseguiram contracenar o tempo todo com amadores e não se perderam em momento algum. Aliás, fiquei fanzaça de João Pedro Zappa, que conheci recentemente no também ótimo "Boa Sorte" (2014), pois "seu" Gabriel está irretocável, assim como a Cristina de Carol Abras. Ó... a obra me arrebatou de um jeito que eu nem consigo descrever. Adorei, recomendo demais e o diretor já foi para o meu panteão de melhores diretores brasileiros, estou louca para ver seus próximos trabalhos.
PS - como ex-montanhista, preciso comentar que o que aconteceu com Gabriel nem de longe foi uma fatalidade. A primeira regra do montanhismo é jamais subestimar uma montanha, regra essa que diversas vezes é quebrada justamente por montanhistas experientes que, por excesso de autoconfiança, deixam para trás todos os procedimentos de segurança aprendidos ao longo de sua vida na montanha. Não é nada rara a mortalidade de montanhistas por isso. Tristíssimo que isso tenha acontecido com Gabriel. Que ele esteja bem no outro plano. 📷
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