Filme do dia (30/2017) - "Gertrud", de Carl T. Dreyer, 1964 - Gertrud (Nina Pens Rode) é uma aristocrata infeliz no casamento. A busca pelo amor absoluto, completo e derradeiro joga-a nos braços de outro homem.
Última obra da carreira de Dreyer, "Gertrud", diferente de seus outros filmes, apoia-se em diálogos longos e intermináveis - tudo é dito, não há espaço para subjetividade ou sutilezas. O cerne é a solidão da personagem central e seu fracasso no encontro de um amor que justificasse sua vida, que desse sentido à sua existência. Gertrud, apesar de aparentar comedimento, quase frieza, exige para si uma relação profunda e apaixonada e, na inexistência dessa, opta pela solidão, descartando qualquer relação que não se encaixe em seu ideal de entrega absoluta. Apesar do tema interessante, a obra não me tomou como outras do diretor - na minha opinião tudo é excessivamente falado, exibido, discutido, o espectador não consegue intuir nada porque tudo é escancarado, a verborragia chega a ser cansativa. Por outro lado, o diretor continua sendo econômico nos movimentos, motivo pelo qual a fala excessiva fica mais evidente. A fotografia P&B e os enquadramentos de Dreyer mantém seu virtuosismo - inúmeros são os quadros que parecem verdadeiras pinturas. Um ponto que me incomodou tremendamente foi a interpretação dos atores, em especial de Nina Pens Rode - eles não se olham, nunca. O olhar de Gertrud está sempre basso, em algum ponto no infinito - entendo que isso nos remeta à expectativa da personagem pelo relacionamento amoroso ideal, seu tédio com a vida aristocrática e sua desilusão, mas, em excesso, levou a uma interpretação fria, teatral, não natural e não convincente, de forma que não consegui me envolver com os personagens ou a trama. Não curti muito não.
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