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“Happy Holidays”, de Scandar Copti, 2024

hikafigueiredo

Filme do dia (119/2024) – “Happy Holidays”, de Scandar Copti, 2024 – A judia Shirley (Shani Dahari) está grávida do palestino Rami (Toufic Danial). Contra a vontade dele, ela quer levar a gravidez adiante. A irmã de Rami, Fifi (Manar Shehab), não quer que seus pais saibam que ela não é mais virgem. Ela pede ajuda a Walid (Raed Burbara), um médico amigo da família, para alterar informações no seu prontuário, mas isso pode ter um preço.




 

Neste belo drama familiar palestino temos um pequeno panorama das tensas relações entre judeus e palestinos no entorno de Jerusalém, bem como o peso das tradições culturais e religiosas para ambos os povos. O filme é hábil em mostrar a quase absoluta impossibilidade de diálogo entre judeus e palestinos diante da resistência dos dois em aceitar qualquer contato com o outro. Aqueles que ousam quebrar essa resistência são vistos como traidores. Na narrativa, a judia Shirley engravida do palestino Rami. Eles mantêm a gravidez em segredo, exceto pela irmã de Shirley, Miri, a qual fica escandalizada pelo ocorrido e resolve, do seu jeito, a situação. Paralelamente a isso, Fifi, irmã de Rami, precisa esconder de sua mãe que não é mais virgem, e, para tanto, pede ajuda de Walid, um médico amigo, para alterar informações de seu prontuário médico. Em comum, nos dois casos, a situação de subjugação feminina pelas tradições e cultura – tanto a hebraica, quanto a palestina. Algo que me chamou a atenção é que em ambas as culturas existem mulheres coniventes com a dominação masculina e dispostas a julgar, subjugar e calar outras mulheres – como Miri, irmão de Shirley, ou a mãe de Fifi. Outro ponto marcante da obra relaciona-se à imagem da militarização de Israel – existe uma questão atinente ao serviço militar obrigatório para jovens de ambos os sexos e como essa militarização é apresentada para as crianças desde a mais tenra idade, uma verdadeira lavagem cerebral nos pequenos (a cena da escolinha é de dar ânsia). A obra, apesar de não ter uma atmosfera pesada, deixa o espectador com um gosto amargo na boca, principalmente por mostrar o quanto ainda precisa ser feito pela liberdade feminina. A narrativa é não linear, formada por vários trechos de um mesmo período, vistos sob a ótica dos diferentes personagens – temos um fragmento de tempo relacionado à vivência de Rami, depois outro trecho relacionado à mãe dele, depois um referente a Miri e assim até o fim da obra. Por fim, o diretor optou por não trabalhar com atores profissionais – os intérpretes do filme são amadores e muitos representaram pessoas das suas áreas de atuação real (Walid, por exemplo, é médico mesmo) – e digo que eles se saíram muito bem, com destaque para a mãe de Rami e Fifi e para a própria Fifi. Eu gostei bastante do filme, ele mexeu comigo. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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