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hikafigueiredo

"Harakiri - A Morte de Um Samurai", de Takashi Miike, 2011

Filme do dia (15/2022) - "Harakiri - A Morte de Um Samurai", de Takashi Miike, 2011 - O ronin Hanshiro Tsugumo (Ichikawa Ebizo XI) chega à porta da residência do Clã Li, solicitando autorização para cometer o tradicional ritual de suicídio dos samurais - seppuku - no pátio do lugar. Ele é recebido pela autoridade local, mas, antes de iniciar o ritual, ouve a história de outro ronin que esteve na residência e cometeu o suicídio.





Não, não, nãããããão!!!! Por quê, Miike? Jamais vou entender os diretores que pegam uma obra irretocável e resolvem refilmá-la. O que eles esperam? Melhorar o que já está na medida? O resultado é sempre equivocado, com raras, raríssimas exceções. E aqui não foi diferente. Refilmagem do cirúrgico "Harakiri", de Masaki Kobayashi (1962), o filme narra a história de um samurai sem senhor que adentra à residência do Clã Li sob o argumento de buscar um local para cometer um ritual de suicídio. Ocorre que a intenção dele não é realmente essa, mas, sim, expor a crueldade do senhor local, questioná-lo acerca de sua conduta e vingar uma morte anterior. A história, aparentemente, reproduz a original, mas, na verdade, ela perde completamente a essência da obra que a antecedeu. O "Harakiri" de 1962 traz uma forte crítica à hipocrisia dos clãs, à manipulação da informação, à conveniência da cultura da honra samurai e ao controle dos senhores sobre a população sob seu comando - quase tudo isso é perdido na presente obra, em especial pela supressão da cena final do filme anterior, essencial para "fechar" a crítica que já vinha se formando no corpo da obra. O remake apenas perde - perde em sutileza, perde em poesia, perde em estética e perde em conteúdo. A refilmagem aposta na explicitação de informações que, no filme antecedente, eram apenas sugeridas ou mencionadas delicadamente - parece Hollywwod quando resolve refilmar obras de outras nacionalidades: tem que deixar tudo bem e-x-p-l-i-c-a-d-i-n-h-o, senão o público não vai entender. Eu, particularmente, detesto essa perda de sutileza, acho que deixa a história grosseira e burra. O filme, ainda, concentra sua atenção nas partes mais melodramática da história, perdendo a poesia que o filme trazia e carregando nas cores, introduzindo cenas no mínimo apelativas e totalmente desnecessárias (como a longa e explícita cena de seppuku de Motome ou o calvário de Miho). Como na obra anterior, a narrativa é não linear, trabalhando em dois tempos independentes - o passado, narrado ou por Tsugumo ou pelo representante do Clã Li, e o presente, momento em que Tsugumo se apresenta na residência do clã. O ritmo é moderado, mas bem mais marcado do que o da obra original. A atmosfera mantém-se trágica, mas ganhou ares melodramáticos, para meu profundo desgosto. Praticamente nenhuma alteração de roteiro foi feliz - tudo o que foi mudado, modificou a história para pior. Apesar do conteúdo infinitamente menos interessante do que do filme anterior, a parte técnica manteve-se de alta qualidade. Ainda acho que, esteticamente, o original é superior, mas ninguém pode dizer que esta obra peca por qualquer quesito técnico que seja. A fotografia colorida, deslumbrante, trabalha muito bem os contrastes claro-escuro e aproveita bem as cores para criar outros contrastes. A direção de arte de época - a história é ambientada no Japão do século XVII - é minuciosa e igualmente admirável. O elenco também não merece qualquer crítica negativa - mesmo a cena apelativíssima de Motome no momento do suicídio, opção do diretor e não do ator. Ichikawa Ebizo XI está muito bem como Tsugumo e consegue trazer na expressão aquela sobriedade que esperamos dos samurais (que era maravilhosamente traduzido por Toshiro Mifune em seus personagens - ai ai rs); Eita Nagayama interpreta Motome - eu gostei da interpretação dele, muito embora tenha achado as modificações do personagem introduzidas pelo diretor um erro grosseiro, pois transformaram Motome em um samurai desprovido de qualquer compostura; Hikari Mitsushima interpreta Miho, outra personagem que ficou quase desfigurada na obra, mas sem ser culpa da atriz, mas, sim, de Miike; Koji Yakusho interpreta Kageyu Saito e impõe a autoridade necessária à figura de representante do clã. Acredito que quem veja o filme sem a referência do anterior o ache ótimo. Por outro lado, a referência do original destrói qualquer admiração que o filme poderia despertar. Como eu vi, há poucos dias, o original, não consegui gostar minimamente deste. No final das contas, recomendo... o filme de 1962.

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