Filme do dia (158/2023) – “Infinity Pool”, de Brandon Cronenberg, 2023 – No fictício país de La Tolqa, um paraíso tropical de resorts incrustado em um local marcado por tradições bárbaras, o escritor James Foster (Alexander Skarsgärd) passa férias com sua esposa Em (Cleopatra Coleman). Quando conhecem o casal formado por Gabi (Mia Goth) e Alban (Jalil Lespert), James e Em concordam em sair de dentro dos muros do resort, com consequências inesperadas.
Em uma interessante mescla de ficção científica e terror, o filme tem o claro propósito de ser desconfortável, ainda que traga alguma crítica social embutida – mas não a suficiente para desviar a atenção do body horror que se segue. A história acompanha o protagonista James e sua esposa Em – ele, um escritor fracassado, ela, uma herdeira milionária – em uma viagem de férias a La Tolqa, um país fictício, mas que se supõe localizado no sudeste asiático. Os visitantes são orientados a não saírem do resort em nenhuma hipótese, mas, convencidos por Gabi, uma fã de James, o casal acaba ousando sair dos protegidos muros do hotel. Ocorre que um acidente acontece e James acaba conhecendo as bárbaras tradições e leis do país... Aqui entramos com os dois pés na ficção científica e a obra se torna bizarra e profundamente perturbadora. Questões como identidade, responsabilidade, respeito ao próximo, serão levantadas, sem respostas fáceis. Como crítica, o filme retrata a forma como a elite internacional se comporta perante o resto do mundo – invadindo países pobres e culturalmente diversos, desrespeitando a população, as culturas e até seus pares. Os personagens entram em uma espiral de loucura e irresponsabilidade, chegando às últimas consequências. Não posso ir muito além para não dar spoilers, mas é bom o espectador estar preparado para acontecimentos brutais e muito questionáveis ética e psicologicamente. A narrativa é linear, em ritmo ágil e crescente. A atmosfera é a dos piores pesadelos, daqueles que a gente não consegue acordar. Formalmente, o filme até tem algumas ousadias, em especial nas cenas em que o protagonista está sob efeito de drogas. Logo na primeira cena, uma câmera giratória já acena com o estranhamento que o espectador irá vivenciar ao longo do filme. A fotografia, um tanto irregular, alterna planos e posições de câmera convencionais com cenas que beiram a psicodelia, inclusive com o uso de muita luz estroboscópica (cuidado quem tem tendência a convulsões, essas cenas podem ser perigosas). O desenho de produção marca a diferença intra e extramuros do resort – se dentro do hotel temos o requinte e o luxo, do lado de fora teremos a pobreza mais evidente (engraçado que podemos questionar a quem os muros protegem – a elite internacional ou a população miserável? Quem seria mais perniciosa e destruidora?). Prepare-se para cenas violentas e muito sangue, ainda que não chegue a ser gore. Gostei do uso da trilha musical para causar tensão, com o uso de cordas graves (Violoncelo? Baixo? Não sei dizer ao certo). Mas o alto mesmo do filme são as interpretações. Alexander Skarsgärd está muitíssimo bem como James Foster, um personagem que vive entre a arrogância de ter muito dinheiro e a baixa autoestima de saber-se profissionalmente fracassado. Mas é Mia Goth quem dá um show de interpretação, ressaltando que a atriz está se especializando em personagens controversas, violentas, esquisitas, raivosas, debochadas – sua Gabi é uma das personagens mais brutais e insanas que eu me lembro de ter visto recentemente, ganha de Pearl (“X” e “Pearl”, ambos de 2022), ela está perfeita!!!! Então... o filme é bem do tipo ame ou odeie... quem gosta de filmes incômodos, desconfortáveis e perturbadores certamente vai curtir. Se esta não é a sua praia, nem tente. Eu, que curto essa vibe, adorei.
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