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  • hikafigueiredo

“Iris”, de Richard Eyre, 2001

Filme do dia (25/2024) – “Iris”, de Richard Eyre, 2001 – A filósofa e romancista Iris Murdoch (Kate Winslet) conhece o escritor John Bayley (Hugh Bonneville) e, apesar de seu comportamento livre e desapegado de regras, passa a ter um relacionamento com ele. Anos se passam e Iris (Judi Dench), já idosa, começa a sofrer os primeiros sinais do Mal de Alzheimer. Com o avanço da doença, John (Jim Broadbent), seu companheiro até então, assume o papel de cuidador da escritora.




 

Baseado em dois livros biográficos escritos pelo próprio John Bayley, a história acompanha o início e o ocaso do relacionamento amoroso do casal Iris Murdoch e John Bayley. Alternando o passado e o presente, a narrativa retrata a vida livre, despida de qualquer amarra moral, da escritora Iris Murdoch na sua juventude, e as dificuldades enfrentadas por Iris e John quando ela começa a sofrer de Alzheimer e, mais tarde, passa a depender do companheiro para tudo. O início do filme patina um pouco, a obra demora a mostrar a que veio – o começo do relacionamento do casal não me gerou grande interesse e cheguei a achar até mesmo chata a primeira meia hora de filme. No entanto, quando a protagonista começa a revelar os primeiros sinais da doença, a obra cresce e se torna infinitamente mais interessante. A narrativa é hábil em mostrar a evolução da doença, ao mesmo tempo em que constrói, com sensibilidade, o relacionamento do casal que, no futuro, se mostra extremamente estável. É muito evidente que a narrativa parte de uma verdadeira declaração de amor de John por Iris, mesmo que, em alguns momentos, ele se mostre esgotado por suas responsabilidades quanto à companheira. A narrativa não-linear começa bem lenta, mas ganha ritmo após os primeiros vinte minutos. A atmosfera alterna momentos de romantismo com outros de angústia e desespero, mas consegue fazer isso de uma forma bastante equilibrada. Ainda que o roteiro seja bastante sólido e consiga fazer a já mencionada alternância de passado e presente com muita competência, o forte do filme, sem nenhuma dúvida, são as interpretações muito acima do comum do quarteto que interpreta o casal na juventude e na maturidade. Kate Winslet dispensa comentários, pois é uma atriz completa em qualquer papel que assuma – e aqui não foi diferente. Sua Iris jovem é sedutora, ousada e profundamente transparente e é quem dá a tônica do relacionamento do casal; Hugh Bonneville interpreta o apaixonado John jovem e imprime, ao personagem, certo deslocamento quanto à liberdade extrema da amada; Judi Dench interpreta Iris idosa e o faz com total competência – seu olhar perdido consegue exprimir toda a desorientação da personagem e a atriz consegue, a certa altura, esvaziar a protagonista de sua total consciência, num trabalho magistral; mas é Jim Broadbent quem se destaca dentre o quarteto de grandes intérpretes: primeiro, por conseguir dar continuidade ao ótimo trabalho de Bonneville – as interpretações dos dois atores são tão coesas que, por um bom tempo, achei que se tratava do mesmo ator com maquiagem de envelhecimento e fiquei surpresa ao perceber serem dois intérpretes diferentes -; segundo, porque o John idoso, sobrecarregado pelos cuidados dispensados à companheira, expõe uma dor sem tamanho e a perda diária da amada vai, pouco a pouco, consumindo o personagem – e o mérito é todo da interpretação de Jim Broadbent, que lhe rendeu um Oscar (2002) e um Globo de Ouro (2002) de Melhor Ator Coadjuvante, bem merecidamente. Pelo tema, o filme estabelece um diálogo bem interessante com os estupendos “Amor” (2012) e “Viver Duas Vezes” (2018). O filme é excelente, mas o espectador precisa vencer os primeiros vinte minutos do filme, os quais não fazem jus ao restante da obra. Eu gostei e recomendo.

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