Filme do dia (412/2020) - "Ju-On", de Tajashi Shimizu, 2002 - Em uma casa de Tokyo, um marido enciumado assassina sua esposa Kayako (Takako Fuji) e seu filho Toshio (Yuya Ozeki), após o que se suicida. O lugar, então, fica amaldiçoado e todos os que ali entram, acabam entrando em contato com as almas atormentadas dos mortos no local.
Antes de falar sobre esse filme, preciso advertir ao eventual leitor que é possível que eu sofra de uma "distorção de percepção" em relação a ele e sua refilmagem americana, "O Grito", de 2004. Eu assisti à refilmagem no ano de lançamento, em um cinema absolutamente vazio, na sessão da meia-noite. Voltei do cinema no meio da madrugada e estava sozinha em casa. Resultado: uma experiência aterrorizante, quase um pânico. Logo, ficou registrado, na minha memória, que "O Grito" era um dos filmes de terror mais apavorantes que eu já havia visto. Ontem assisti ao original japonês "Ju-On", que todos falavam ser muito melhor que a refilmagem. Esse eu assisti em mídia física e não estava sozinha em casa. A experiência foi completamente diferente e praticamente não senti medo - talvez pouco tenha me conectado com a obra. É meio evidente que aqui há uma clara alteração de percepção causada pelas condições em que assisti a um ou ao outro filme, de modo que a refilmagem me parece ser muito mais efetiva que o original. Isto posto, vamos ao "Ju-On". A obra se apoia na crença japonesa de que um local fica "impregnado" pelas energias dos acontecimentos ali ocorridos. Assim, em um lugar onde teria acontecido uma grande tragédia, haveria certa predisposição a "causar" outras ocorrências da mesma natureza. Na história, os assassinatos originais estariam por detrás de uma cadeia de acontecimentos horríveis e macabros. A narrativa é não-linear, acompanhando, em blocos, o que aconteceu com cada pessoa que entrou na tal casa, tendo contato, portanto, com os espíritos transtornados de Kayako e Toshio. As imagens destes dois personagens é perturbadora, tanto no original, quanto na refilmagem - para mim, Toshio é infinitamente mais assustador que Kayako, ainda que ele, na verdade, nem faça muita coisa ao longo da história. Diferentemente dos filmes ocidentais, "Ju-On" não marca, com música, os segundos anteriores a um acontecimento - ou seja, não prepara o espectador, que é realmente surpreendido com coisas que ocorrem ao longo da história. O argumento é ótimo, mas o roteiro "em blocos por personagem" pode confundir um pouco o espectador quanto à cronologia dos fatos (já que existe o antes, o depois e o concomitante). A obra mistura terror psicológico com jumpscare, com uma tendência ao segundo. Não espere "gorices", inexistem cenas gore na obra. Os efeitos especiais, quase que limitados à maquiagem, são bem simples, alguns chegam a ser realmente fracos - e aqui está um grande diferencial em relação à refilmagem, que apresenta poucos, mas bons efeitos especiais. Tanto no original, quanto na refilmagem, os maus espíritos fazem um som que é aflitivo e assustador ao mesmo tempo (e quem já fez exercícios de fonoaudiologia, talvez vá reconhecê-lo como um determinado exercício parta alcançar tons graves). O elenco é enorme, com algumas atuações razoáveis e outras bem fraquinhas, mas eu destacaria a interpretação de Takako Fuji como Kayako, que, se não é estupenda, é suficientemente esquisita para causar desconforto no espectador. Olha... como eu disse, eu acho que eu tenho uma distorção de percepção, mas, considerando a minha experiência, achei a refilmagem de 2004 muito mais assustadora que o "Ju-On" original, que, ainda assim, é um filme de terror que vale a pena ser visto por quem gosta do gênero. Recomendo.
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