Filme do dia (116/2019) - "Krisha", de Trey Edward Shults, 2015 - Após anos afastada de seus familiares, Krisha (Krisha Fairchild), uma mulher de meia idade, decide reencontrar a família para passar um feriado. No entanto, velhas mágoas e antigos hábitos ainda ecoam em sua vida.
Primeiro longa do mesmo diretor do ótimo "Ao Cair da Noite" (2017), o filme pode ser considerado uma obra de sensações. Como na obra subsequente, o diretor constrói, gradualmente, um clima de desconforto, um mal estar que, subitamente, ganha ares de um quase pesadelo. A história em si nem é tão original e trata, basicamente, de conflitos familiares, desacertos entre entes queridos e mágoas não resolvidas. No entanto, a forma como o diretor lida com essa narrativa e se utiliza da linguagem cinematográfica é bastante original e habilidosa e faz valer - e muito - o filme. Por toda a obra, temos uma câmera que perscruta o rosto da protagonista, buscando as mais recônditas emoções, procurando sinais do que vem adiante. É uma câmera mais que curiosa - ela é invasiva, indiscreta, quase abusiva. A personagem, por sua vez, dá, desde cedo, sinais de apreensão e desconforto com a situação. Com o decorrer da narrativa, a apreensão vai se tornando desespero, agonia e, como uma bola de neve descendo uma ribanceira, Krisha começa a perder o controle da situação e de si própria. Nesse ponto, as imagens se tornam embaçadas, perde-se definição na mesma proporção em que Krisha perde-se em meio às suas emoções confusas e "sufoca". A câmera, por sua vez, auxiliada pela montagem, torna-se cada vez mais "nervosa". Olha, a construção da obra é fenomenal, muito boa mesmo. Cabe destacar o papel da trilha sonora, a qual colabora demais para a sensação de estranhamento e desconforto que a situação sugere (quem diz isso sou eu, a surda... se me chamou a atenção, deve ser bom de verdade!). Quanto às interpretações, cabe destacar o trabalho de Krisha Fairchild - uma atriz desconhecida, tia do diretor e incrivelmente expressiva, a força de seu olhar direto para a câmera meio que paralisa o espectador (se a câmera perscruta a personagem, esta, como em um espelho, invade o espectador com seu olhar - wow!!!). Uma curiosidade: quase todos os "atores e atrizes" são, na verdade, parentes do diretor e, tirando Krisha e mais um ou dois, não são realmente profissionais da área e estavam apenas dando uma força para o rapaz em seu primeiro longa - isto inclui a mãe e a avó do diretor, o qual, inclusive, também participa. Olha, o filme é extremamente bem realizado e merecia um reconhecimento maior, o mesmo valendo para a atriz Krisha Fairchild. Gostei muito e recomendo.
Comments