Filme do dia (207/2020) - "Lady Macbeth", de William Oldroyd, 2016 - Inglaterra, século XIX. A jovem Katherine (Florence Pugh) casa-se com um homem frio e autoritário. Durante uma viagem de seu marido, Katherine envolve-se com Sebastian (Cosmo Jarvis), um empregado da fazenda. O retorno de seu sogro cria um situação insustentável para a jovem mulher.
Resolvi assistir a essa obra por conta da atriz Florence Pugh, pois adoro seu seu trabalho. Nem esperava tanto do filme e me surpreendi. A obra é muito bem conduzida, justamente por conta da ótima interpretação de Pugh. A narrativa desenvolve-se de tal forma que, no início do filme , o espectador é completamente favorável ao romance de Katherine com o empregado da casa - a jovem mulher é desprezada pelo marido e destratada pelo sogro, levando uma vida de clausura insuportável, nada mais justo e libertador que seu romance com Sebastian. Ocorre que, progressivamente, a real natureza de Katherine vem à tona - ela fará qualquer coisa para manter seu romance com Sebastian... qualquer coisa. Pouco a pouco, Katherine mostra-se manipuladora, cruel, autoritária e violenta, transformando o destino de todos ao seu redor numa descida ao inferno - e a simpatia inicial que o espectador tinha pela personagem vai, gradualmente, transformando-se em antipatia até tornar-se pura aversão. Essa passagem é muito bem feita, diga-se de passagem. Ainda assim, é interessante ver, como pano de fundo, qual era a condição feminina nos idos do século XIX - o patriarcado dominando e calando as mulheres, as quais eram tratadas como bens materiais e negociadas como "coisas" (lá pelas tantas, descobrimos que Katherine foi comprada por seu sogro, junto com as terras da fazenda em que vivem). Eeeeeerrrr, talvez a protagonista tivesse boas razões para agir como agiu... rs. A narrativa ocorre em tempo linear e o ritmo é leve, porém crescente. Fotografia e direção de arte são belíssimas, explorando bem as lindas locações da fazenda (a janela do quarto do casal chamou até a minha atenção pelo seu tamanho!). Mas, o forte da obra são as interpretações, em especial de Florence Pugh. A transição de pobre menina subjugada a jararaca criada é feita tão suavemente que a gente quase nem percebe e muito é mérito de Pugh. Uma coisa que achei bem interessante - é um spoiler que não interfere na história, mas, se você preferir, pare de ler AQUI - é a questão da gravidez de Katherine: nós sabemos que ela está grávida, ainda que, em momento algum isso seja dito em cena, somente sugerido através da linguagem corporal da personagem. A interpretação de Cosmo Jarvis me pareceu muito apagada, protocolar - não gostei. Quem se sai melhor em cena é a atriz Naomi Ackie como a empregada Anna, quem primeiro entende a verdadeira natureza de Katherine - e a atriz consegue mostrar, muito bem, sem nenhuma palavra, a estupefação da empregada diante da perversidade da patroa. O filme é muito mais interessante e legal do que eu imaginava. Eu gostei bastante e recomendo.
PS - Pelo visto, se chamar Lady Macbeth não faz muito bem para o caráter...
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