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  • hikafigueiredo

"Lua de Fel", de Roman Polanski, 1992

Filme do dia (51/2021) - "Lua de Fel", de Roman Polanski, 1992 - Durante um cruzeiro, o casal Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas) conhecem uma bela mulher de nome Mimi (Emmanuelle Seigner). Nigel rapidamente se sente atraído por Mimi, o que chama a atenção de Oscar (Peter Coyote), o marido dela. Em um jogo perverso, Oscar começa a contar a história do casal para Nigel sob a promessa de que, ao final, ele finalmente poderá ter Mimi.




Baseado no romance homônimo de Pascal Bruckner, o filme discorre sobre uma relação amorosa levada às últimas consequências. Através de flashbacks, o espectador é levado a conhecer a história doentia e perversa de Oscar e Mimi que, iniciada como qualquer relação amorosa, com paixão e romance, gradativamente, decai para uma relação de poder e sofrimento, onde Oscar e Mimi revezam-se em uma posição de comando em relação ao outro, infligindo a este o máximo de humilhação e dor. Neste panorama, Nigel é usado como uma peça em um jogo sombrio, funcionando como um voyeur involuntário junto à história doente e degradante do outro casal, o que irá refletir na sua relação com Fiona. É uma história muito pesada, com toques profundos de sadismo - nada a ver com o sadismo dos filmes "gore", é algo muito mais complexo e trabalhado, que atinge, a fundo, o emocional dos personagens e que, a mim, trouxe um gosto muito amargo à boca. A narrativa é não linear, alternando o presente com os flashbacks relacionados ao casal Oscar e Mimi. O ritmo é bem marcado e crescente. A atmosfera começa leve, mas vai, pouco a pouco, tornando-se mais pesada e dolorosa até o desfecho trágico - o fato de tudo se passar em um navio traz uma sensação de claustrofobia à história e faz com que o personagem Nigel, sem ter para onde fugir, pareça um rato em uma ratoeira, à mercê das revelações incômodas de Oscar. A escolha do elenco foi cirúrgica: ninguém estaria melhor no papel de Nigel que Hugh Grant, com sua eterna cara de "deslocado", assim como Kristin Scott Thomas com toda a sua elegância "blasé"; mas são as mudanças dos personagens Oscar e Mimi, interpretados, respectivamente, por Peter Coyote e Emmanuelle Seigner, que marcam o filme e dão o tom. Inicialmente, ingênuos e apaixonados, Oscar e Mimi têm uma aparência fresca e jovial - Mimi com vestidos comportados, tênis branco e olhar inocente; à medida em que há a degeneração moral dos personagens, isso se reflete na sua aparência e na sua conduta - Mimi passa a usar vestidos cada vez mais sedutores e escandalosos, Oscar ganha uma aparência de decrepitude e, ambos, tornam-se cínicos e cruéis. Essas modificações dos personagens acontece muito sutilmente e são magnificamente interpretadas por Peter Coyote e Emanuelle Seigner (cabe dizer que eu nem os acho um ator e atriz excepcionais, mas, definitivamente, foram muito bem dirigidos por Roman Polanski). Destaque para a boa trilha sonora de Vangelis. Essa foi a terceira vez que eu vi esse filme e, a cada visita, eu gosto mais dele. Recomendo, mas não se esqueça que não é um filme leve. PS - Com direito a ouvir "Kátia Flávia", de Fausto Fawcett, como música incidental.

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