- hikafigueiredo
"Lucky", de John Carroll Lynch, 2017
Filme do dia (167/2018) - "Lucky", de John Carroll Lynch, 2017 - Lucky (Harry Dean Stanton) é um solitário homem de 90 anos que, após uma queda, depara-se com o medo da morte e passa a questionar sua postura perante o tempo que lhe resta.

Nesse delicadíssimo filme, somos confrontados com uma questão que permeia, mais cedo ou mais tarde, a existência de todos nós: a aproximação do ocaso. O personagem, ao deparar-se com a morte que se aproxima - afinal, aos 90 anos, por melhor que esteja sua saúde, sabe-se que não lhe resta muito tempo de vida - percebe seu temor do desconhecido, questiona sua evidente descrença e, aos poucos, busca respostas internas às suas dúvidas e seus receios. É uma belíssima obra sobre a velhice, a solidão e a morte e as formas de encará-la. Obviamente, considerando o tema, é um filme um tanto quanto melancólico, mas não é uma história que, ao final, nos deixa depressivos - ao contrário, ao final da obra, é possível que o espectador tenha um sentimento de paz, até mesmo de aconchego, diante da aceitação do fim certo, ao invés de debater-se contra algo que não possui solução diferente (Observação: a cultura ocidental tem uma postura de negação da morte. Evita-se falar, mencionar e até pensar sobre o assunto, como se isso pudesse alterar alguma coisa. Há culturas em que a morte é tratada com muito maior naturalidade e que trata com muito mais resignação o fim que se aproxima, o que, na minha opinião, prepara melhor o ser humano para que não sinta tanta angústia diante da morte). O ritmo é bem lento, já que trata do questionamento e busca de respostas, mas está longe de ser cansativo. Achei interessante o fato do elenco em peso - com exceção de uma única personagem - ter, pelo menos, uns 65 a 70 anos - lindo caso de representatividade!!! Do ponto de vista técnico, tudo está perfeitamente encaixado, mas destacaria a trilha sonora baseada numa gaita chorosa - maravilhoso, apesar de triste. No elenco, além do fantástico Harry Dean Stanton - que tem uma interpretação inspiradíssima, infelizmente a última de sua carreira, já que faleceu pouco depois, ainda em 2017 - destacaria Tom Skerritt como Fred e ninguém menos que David Lynch como Howard. O filme é lindo e é um evidente tributo em vida para Harry Dean Stanton, Obrigatório, ao menos em respeito ao ator.