Filme do dia (192/2020) - "Madadayo", de Akira Kurosawa, 1993 - Japão, década de 40. No aniversário de 60 anos do professor Hyakken Uchida (Tatsuo Matsumura), seus alunos preparam uma grande festa para homenageá-lo, onde eles perguntam se ele está pronto, a que ele responde "Madadayo" (que não está pronto), referindo-se à sua morte. Ao longo de muitos anos, o evento se repetirá, acompanhando a velhice do antigo professor.
Que filme, meu Deus!!!! Como Kurosawa conseguia tratar de assuntos tão profundos com leveza e seriedade sem cair na pieguice ou no melodrama!!!! O filme é maravilhoso!!! Ele discorre sobre respeito, gratidão, admiração e afeto, e mostra como um verdadeiro professor merece ser reverenciado por seus alunos por todas as suas vidas. Ao longo da narrativa, observamos como o professor ensinou muito mais do que conteúdo a seus alunos; ele lhes ensinou acerca de valores profundos como respeito, empatia, correção e gratidão, tornando-os pessoas e cidadãos melhores e mais completos. A narrativa é de uma delicadeza ímpar, não caindo, por um instante sequer, naquele sentimentalismo barato tão comum em filmes hollywoodianos que, por vezes, esvai todo o sentimento verdadeiro e profundo da história. Não, aqui lidamos com emoções reais, não há a manipulação do público através de musiquinhas melosas e sentimentaloides, ou diálogos de efeito. Aliás, destaca-se o bom humor constante e muitas vezes ferino do professor (que me fez lembrar muito meu finado pai, que possuía um senso de humor afiado tanto quanto o personagem), sempre muito bem acolhido pelos alunos. O filme é lindo, lindo!!! O roteiro é perfeito, flui delicadamente, acompanhando o paulatino envelhecimento do professor, sempre reverenciado pelos antigos pupilos. O tempo é linear, abarcando cerca de 20 anos da vida do protagonista. O ritmo é bastante lento, bem ao estilo oriental, mas não há "tempos vazios" e de contemplação, a ideia japonesa de "Ma", já mencionada anteriormente nos meus escritos (sobre isso recomendo, mais uma vez, o vídeo "Hayao Miyazaki: A importância do vazio" que fala acerca das ausências que revelam algo - procurem no Youtube, não é longo). É uma obra visualmente bela, com um direção de arte de época bem caprichada. No papel central, Tatsuo Matsumura como o respeitado mestre, um personagem simpatícíssimo, com humor refinado e que dispensava a sisudez do posto. Como sua esposa, temos a incrível Kyoko Kagawa, conhecida de inúmeras obras dos mestres Kurosawa, Ozu e Mizoguchi; como dois de seus alunos mais constantes, Hisashi Igawa e George Tokoro. Para mim, há um diálogo desta obra com "Viver" (1952), também de Kurosawa, "Morangos Silvestres" (1957), de Ingmar Bergman, e, como referência hollywoodiana, com "A Sociedade dos Poetas Mortos" (1989) de Peter Weir. Destaque para a cena do aniversário de 60 anos, para a longa cena do desaparecimento de Nora e para a cena final, linda. Sinceramente... obra prima, Kurosawa era um gênio. Amei e recomendo DEMAIS!!!!
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