Filme do dia (214/2017) - "Madame Bovary", de Claude Chabrol, 1991 - França, Século XIX - Emma (Isabelle Huppert) é a filha de um pequeno proprietário de terras que se casa com o médico Charles Bovary (Jean-François Balmer) com vistas à ascensão social que tal casamento lhe proporcionaria. No entanto, a vida de casada a entendia, tornando sua vida um suplício. Quando o rico "bon-vivant" Rodolphe (Christophe Malavoy) passa a cortejá-la, Emma entrega-se, fazendo dele seu amante.
Baseado no romance homônimo de Gustave Flaubert, a obra traz para as telas o drama vivido pela controversa e contraditória personagem Madame Bovary. Apesar de não ter lido a obra literária, eu conhecia, por cima, a trama da história. Apesar de não ter sido surpreendida, confesso que o ranço machista que permeia a narrativa chegou a me incomodar. Okay, eu sei que a minha "leitura" da obra é ultra contemporânea e que meus questionamentos sobre o desenrolar da história e seu desfecho não caberiam na época em que foi escrita (cabe dizer que o romance foi um marco na literatura por ser o início do Realismo na literatura e trouxe à baila temas polêmicos para a época, tornando-o importantíssimo por qualquer viés que se considere), mas, ainda assim, é patente o quanto a opressão patriarcal encontra-se retratada na história. Ora, quantas vezes se viu a traição masculina ser motivo de escândalos e condenações na cultura ocidental??? E quantos homens infiéis mereceram os "castigos" impostos às esposas igualmente infiéis na literatura ocidental (o sofrimento, o conflito e, claro, os desfechos de personagens como Madame Bovary, Luísa, de "O Primo Basílio" ou Anna Karenina, do livro homônimo)??? Assim, temos um claro retrato da opressão feminina que vem acompanhando as mulheres desde tempos imemoriais - o que, ao menos para mim, foi bastante incômodo. Mas depois do "textão", vamos ao filme... rs... Como não li o romance, não tenho como avaliar a fidelidade ao livro, mas o desenrolar da narrativa no filme foi bem estruturada, sem saltos ou percalços no caminho. A direção de arte e a fotografia do filme merecem destaque, pois a obra é visualmente linda. Mas o que realmente merece ser destacado - e que era realmente de se esperar - é a interpretação da "deusa" Isabelle Huppert, sempre maravilhosa (e com frequência em papéis controversos, que despertam diferentes tipos de emoções e reações!). O resto do elenco também está bastante bem - ótima escolha de Jean-François Balmer para fazer o médico Charles, pois o ator conseguiu colocar na tela a falta de atrativos do personagem, bem como conseguiu despertar um misto de pena e simpatia pelo médico. Li em algum lugar que este filme não é tão bom quanto a filmagem de Jean Renoir da mesma obra literária, mas preciso encontrar esse filme para poder dar alguma opinião sobre ele. Sem essa comparação, ao menos, o filme de Claude Chabrol me pareceu ótimo, manteve minha atenção e eu gostei bastante. Valeu a pena e recomendo.
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