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“Militantropos”, de Yelizaveta Smith, Simon Mozgovyi e Alina Horlova, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

Filme do dia (110/2025) – “Militantropos”, de Yelizaveta Smith, Simon Mozgovyi e Alina Horlova, 2025 – Ao longo de alguns anos, o documentário registra a condição humana e resiliência da população ucraniana em meio à guerra contra a Rússia.


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Pois, é. Segundo documentário em um mesmo dia. Nesta obra, temos o registro do cotidiano da população ucraniana durante alguns anos de guerra contra a Rússia. Com uma qualidade técnica indiscutível – o filme apresenta uma fotografia cuidadosa, posicionamentos de câmera estudados, qualidade de som que não merece reparos, tudo muito bem-feito -, a obra retrata a fragmentação da identidade daquela população e sua luta para manter a integridade enquanto povo e cultura, tendo, na guerra, a esperança de retomada de sua existência. Então... não posso negar que o filme é muito bom e que cumpre seu papel enquanto registro de um momento histórico específico e tomado pela tragédia. Mas faço duas considerações sobre a obra. A primeira é sobre como são estruturados os “blocos” de cenas ao longo da narrativa. O filme alterna o registro do cotidiano da população – os plantios nas fazendas, a criação de animais, a recuperação de áreas devastadas pelos bombardeios, a evacuação de uma vila, as festas típicas – com o registro das operações das tropas ucranianas. Talvez seja uma percepção particular minha, uma vez que isso não incomodou meus parceiros de sessão, mas achei essa alternância excessiva e muito repetitiva. No começo isso não me incomodou, mas lá pela sétima ou oitava cena alternada, achei que a estrutura merecia alguma inovação, ao invés de repetir-se ad nauseam. A segunda consideração reside na abordagem da guerra. Eu entendo que os ucranianos, enquanto povo invadido, queiram defender seu território, sua cultura e seu modo de vida. Mas eu, enquanto pacifista ferrenha e convicta, tenho muita dificuldade em glorificar a guerra e os combatentes – e o documentário de uma maneira não muito sutil glorifica, sim, o embate e aqueles que estão na frente de combate. Nada nesse mundo vai me fazer ver qualquer heroísmo na guerra – para mim, na guerra não existem heróis, não cabem atos de coragem, aos meus olhos todos são vítimas e algozes numa luta armada. “Ah, mas, então, qual a saída para essa situação?”. Ainda que não exista outra saída que não o embate direto, eu sempre vou achar que o tom de qualquer filme sobre a guerra deve ser o de lamento e pesar e isso, para mim, é inegociável. Então, confesso que a atmosfera de enaltecimento dos soldados do exército ucraniano – mesmo sendo formado, em grande parte, por voluntários – me incomoda profundamente, por mais que eles tenham muitas justificativas para estarem ali. Enfim... documentário meticuloso sobre a questão da guerra entra Ucrânia e Rússia e valorização do ponto de vista ucraniano (porque em qualquer questão do mundo temos diferentes posicionamentos e visões sobre as coisas, é fato). Achei bem bom, ainda que tenha me cansado bastante (mas porque eu não curto mesmo o gênero, o problema é particular meu). Recomendo para quem gosta de documentários em geral. Vigésimo quinto filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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