Filme do dia (202/2018) - "Miss Violence", de Alexandros Avranas, 2013 - Angeliki, uma menina de onze anos, joga-se da varanda de seu apartamento no seu aniversário. Pouco a pouco, os motivos de tal comportamento vêm à tona.
O filme elevou o tema da violência familiar e abuso infantil a um outro nível. Inicialmente, o espectador intui que algo não funciona bem naquela família. Existem inúmeras, infinitas, insinuações, há um evidente componente violento nas relações entre os membros da família, mas, durante quase uma hora, nada é evidenciado. De repente, o choque - tudo de errado que acontece naquele núcleo é explicitado, é exposto de maneira crua, sem meias palavras, sem meandros, e, para o horror do espectador, tudo se revela ainda pior do que a nossa imaginação vinha cogitando. É uma obra muito, mas muito pesada, vai deixar muita gente mal. Mais do que chocante, o filme é incômodo ao retratar a apatia e a dificuldade de reação daqueles que vivem sob um relacionamento abusivo, mostrando o quão traumático é estar sob violência constante.O filme trabalha temas como o medo, a opressão, a violência, mas, mais que tudo, trabalha a hipocrisia e a mentira. A obra é "construída" para causar o máximo de desconforto: inúmeras são as câmeras fixas, com enquadramentos que "cortam" os personagens, transformando-os em corpos/partes de corpos sem rostos ou identidade, em ações quase mecânicas, movimentos engessados, apáticos, e o simples ato de carregar um prato parece falso e teatral; a ausência quase total de trilha sonora, transformando o silêncio em algo monstruoso, opressivo, angustiante; e as interpretações dos atores, que fazem com que quase todos os personagens pareçam corpos ocos, sem almas, desprovidos de conteúdo ou vontade própria, meros robôs submetidos a terceiros. Aliás, palmas para o elenco inteiro, porque, definitivamente, não deve ter sido fácil trabalhar nessa obra e ter de se distanciar tanto da superfície do corpo, afundando-se, escondendo-se, no interior da própria alma (espero que alguém entenda o que eu quero dizer com isso rsrsrsrs). Destaque para Themis Panou como avô, Reni Pittaki como avó e Eleni Roussinou como mãe. A obra é fantástica, mas é necessário muito estômago para assisti-la, não subestime o poder de destruição emocional desse filme. Ps - o que tenho visto do cinema grego é sempre muito denso e pesado, o que acontece com esse povo?
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