Filme do dia (247/2021) - "Monika e o Desejo", de Ingmar Bergman, 1952 - Harry (Lars Ekborg) é um jovem trabalhador de 19 anos que se envolve com Monika (Harriet Andersson), uma impulsiva garota que trabalha na quitanda próxima ao local de trabalho de Harry. Apaixonados, eles viverão o verão de seus sonhos, até serem chamados de volta à realidade.
O problema de assistir a um filme de Bergman é que me dá a maior vontade de assistir a toda a filmografia dele em seguida - a impressão que eu tenho é que nenhum outro diretor alcança a profundidade a qual ele leva suas obras. Assim, não resisti e resolvi revisitar "Monika e o Desejo", outro filme estrelado pela versátil Harriet Andersson. A história gira em torno do casal Harry e Monika, dois jovens que se envolvem em uma típica relação "de verão". A obra discorre sobre a juventude e a impulsividade, inconsequência e romantismo que lhe são característicos. Harry e Monika atiram-se, com sofreguidão, na relação amorosa, abandonam seus empregos e, sem pensar em quaisquer consequências, lançam-se em uma aventura, viajando, de barco, pelas ilhas e praias da Suécia, durante um idílico verão. Vivendo um para o outro, numa paixão ilusória e extrema, o casal não faz qualquer plano para o futuro, gozando o prazer do agora - que, evidentemente, não tardará a se desfazer ante às questões mais comezinhas da realidade. O tempo, ainda, mostrará as diferenças irreconciliáveis entre os dois personagens - de um lado, Monika e sua voluptuosidade, seus caprichos juvenis e a inconsequência perdoável apenas pela pouca idade da jovem; de outro, Henry, pragmático, responsável e decidido a construir algo mais para o futuro. Ainda que o filme não traga o peso filosófico de outros tantos do diretor, é inegável que Bergman consegue aprofundar, na obra, as questões mais urgentes da juventude, saindo da superficialidade em que muitas vezes tal tema é tratado. A narrativa é linear, em um ritmo contemplativo, quase preguiçoso, principalmente durante as cenas da viagem de barco ao longo do verão. A atmosfera é de urgência, existe uma voracidade pelo prazer imediato, a sanha dos apaixonados um pelo outro; essa atmosfera, no entanto, vai se dissolvendo à medida em que o verão passa e eles se deparam com a realidade, a paixão, lentamente, se transformando em outra coisa, diferente para cada um dos jovens. O roteiro, baseado no romance homônimo de Per Anders Fogelström, é enxuto, pontual. Tecnicamente, é um filme com a qualidade irretocável de Bergman: desde a magnífica fotografia P&B de Gunnar Fischer (o filme é anterior à parceria de Bergman com Sven Nykvist, que se iniciaria no ano seguinte com "Noites de Circo"), que aproveita a beleza da paisagem do litoral sueco e usa, com precisão cirúrgica, de planos detalhes dos rostos dos personagens, sempre muito significativos, à econômica sonoridade característica do diretor (ainda que aqui temos muito mais trilha sonora incidental, principalmente nas cenas da viagem de barco). No elenco, quase exclusivamente as presenças de Lars Ekborg e Harriet Andersson, ambos ótimos. Lars Ekborg carrega seu personagem de certa gravidade, principalmente nas cenas pós-viagem: Henrik passa a sentir o peso da responsabilidade e assume Monika de maneira séria, austera; já a personagem Monika é o contrário: infantil, inconsequente, caprichosa, selvagem e egoísta, a jovem incomoda-se com a seriedade com que o companheiro encara a vida - e Harriet Andersson está fantástica no papel. Eu destacaria as cenas de planos detalhes dos rostos dos personagens - tais cenas perscrutam os jovens e arrancam, de seu interior, os mais profundos sentimentos dos personagens, com muito mais eloquência que qualquer frase falada teria. A obra é maravilhosa - qual Bergman não é? - e vale demais (re)visita. Recomendadíssimo.
Curtir
Comentar
Comments