Filme do dia (110/2022) - "Mothra - A Deusa Selvagem", de Ishiro Honda, 1961 - O sequestro de duas fadas, sacerdotisas de uma longínqua ilha japonesa, despertará a fúria da criatura Mothra, que saíra em busca de suas protegidas.
Representante dos filmes "Kaiju" - filmes japoneses sobre monstros gigantes, aos moldes de Godzilla e companhia limitada -, a obra traz, a reboque, algumas críticas sociais bem pontuais e compreensíveis para aquele momento histórico. A narrativa começa com o naufrágio de um navio japonês na costa da fictícia Ilha Infant, onde a nação de Rolisica realizava testes nucleares. O governo japonês parte, então, em busca de sobreviventes, encontrando quatro deles nas praias da mencionada ilha. Após exames realizados nos sobreviventes, os cientistas surpreendem-se por eles não apresentarem nenhum nível de contaminação por radiação. Na oportunidade, os cientistas são informados da existência de nativos na ilha, supostamente deserta. Ante essa informação, uma expedição mista dos governos do Japão e de Rolisica parte para verificar o local. Como é comum em filmes japoneses à partir da década de 50, há a menção à questão nuclear e uma crítica embutida aos países que fazem uso e realizam testes da energia atômica. Para não apontar o dedo diretamente aos dois grandes polos de poder durante o auge da Guerra Fria - os EUA e a URSS -, o roteirista criou a hipotética nação Rosilica, que nada mais é que a representação daquelas nações. E isto ficará muito evidente quando, a certa altura, ocorre um ataque do monstro Mothra à cidade de "New Kirk City", uma óbvia alusão à New York, inclusive por sua aparência. Pois é essa crítica pouco sutil da obra que a torna mais interessante e a destaca dentre infinitos filmes "Kaiju" - acerca dos quais, inclusive, não tenho qualquer proximidade ou interesse. Verdade seja dita - para mim, o gênero Kaiju passa batido, motivo pelo qual tenho séria dificuldade em levar minimamente a sério qualquer filme do tipo (muito embora adorasse Ultraseven, Ultraman e Spectreman na tenra infância). A narrativa é linear e tem o ritmo próprio dos filmes do gênero - nem tão lento quanto o cinema oriental clássico, nem tão ágil quanto os filmes de ação ocidentais. Mesmo considerando o universo fantástico criado pela história, onde se concebe uma criatura como a Mothra, o roteiro é bem primário e se perde, em alguns momentos, com elementos equivocadamente incluídos, como o menininho de boné vermelho (sem spoilers). Uma coisa que eu achei interessante é que o verdadeiro vilão da história não é o monstro Mothra, mas um humano ambicioso e inescrupuloso que sequestra as fadas sacerdotisas (quem quiser saber quem é, veja a obra rs). Outra coisa que eu achei interessante, até pela coragem, foi o esforço hercúleo da produção em criar os efeitos especiais: aposta-se em tudo, de maquetes a bonecos, de desenhos diretamente sobre a película do filme a construções feitas em estúdio. Claro que, para os dias atuais, o efeito é sofrível, mas, talvez, para a época, até fosse aceitável. Também fiquei surpresa pela presença de alguns intérpretes super respeitados e presentes em obras de diretores como Kurosawa, Ozu, Naruse e Mizoguchi, tais como Ken Uehara como Dr. Harada, Takashi Shimura como o editor do jornal, Kyoko Kagawa como Michi Hanamura. No elenco, ainda, Frankie Sakai como o reportes "Sen-Chan", Jerry Ito como Clark Nelson e Yumi e Emi Ito como as fadas. Não vou mentir, eu acho esse gênero super tosco e raramente me atrevo a incursionar por ele, mas acho que quem gosta de filmes de monstros gigantes talvez curta. Ou não. Sei lá, arrisquem se quiserem. rs
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